Em uma rápida viagem no tempo, logo chegamos à época de nossos avós, especialmente às décadas de 1940 e 1950, quando viviam com escassez de emprego. Em Aracaju, por exemplo, nesse período só existia emprego na burocracia pública ou nos poucos bancos que por aqui operavam. Ademais, só uns raros e mal remunerados ofícios.
O emprego é uma aquisição
recente na nossa estrutura econômica. Nossos antepassados criaram seus
numerosos filhos tirando o sustento de pequenas unidades rurais e comerciais.
Coisa muito difícil hoje.
Assim, construímos a
sociedade atual alicerçada no emprego. Sonhamos com um bom emprego, mas pouco
fazemos para chegar até ele. Por quê? Em geral, formamos gerações de seguidores
e não de líderes. A escola premia os alunos que são mais passivos e cordatos
com o status quo, aqueles que repetem a forma de pensar e interpretar do
professor, em detrimento do pensamento próprio. Essa mesma escola prefere
alunos que se mantenham limitados à esfera cognitiva, sem a respectiva atuação
prática.
“O modelo educacional
tradicional é impróprio para formar empreendedores porque condiciona à
passividade”, afirma L.J. Filion, pesquisador canadense e um dos principais
autores sobre empreendedorismo. Repetidamente afirmamos aqui que a boa educação
deve atuar na formação do pensar, do sentir e do agir.
Infelizmente, só o pensar
é educado pelos programas oficiais de nossas escolas. O desenvolvimento do
sentir é apenas acompanhado indiretamente por elas, sendo formado pela
convivência social espontânea - e perigosa - dos próprios alunos. Enquanto o
agir é reprimido abertamente no atual sistema de ensino, pois, de nossas ações
emergirão manifestações pessoais exteriores, decorrentes da vontade individual,
que por não caber neste modelo combate-se desde cedo nas crianças. Pergunta-se:
como podemos formar pessoas dinâmicas e inovadoras cuja atuação sempre trará
mudanças à ordem das coisas?
Somos, muitas vezes,
levados a pensar que, ao conseguir um emprego, tudo o mais de nossas vidas
profissionais nos será dado pela empresa. Assim, acomodamo-nos passivamente. Ao
mesmo tempo, vivemos a sensação de que algo decepciona nossas expectativas e
nos voltamos contra o próprio emprego, alimentando um discurso destrutivo na
tentativa de responsabilizar alguém pelo próprio fracasso.
Devemos imaginar que assim
como no modelo escolar, em que evoluímos a cada ano, ao avançar para a série
seguinte, inclusive trocando de escola, se necessário, fazemos acontecer a
progressão e não aceitamos a repetição. Igualmente, devemos pensar em nossa
carreira profissional: evoluir sempre. Olhar para frente objetivamente, definir
onde queremos estar daqui a cinco ou dez anos, e fazer um plano para chegar lá.
Esse plano, certamente, envolverá a construção de um itinerário formativo, contemplando
os cursos e formações necessárias para se fazer cumprir o plano de carreira
profissional. Esse é o caminho da liberdade que só a educação nos dá.
De fato, todos nós
conhecemos pessoas lamurientas e desagregadoras que sempre estão a falar mal
das organizações que trabalham. Essa é a pior atitude profissional que se deve
ter, pois representa a impotência e a incapacidade de decidir sobre a própria
vida. Parecem esperar pelo “Messias” que vai resolver tudo para elas. Disso,
surgem oportunistas que se apresentam como vendedores de ilusões para tirar
proveito político do “sofredor”, num movimento perverso de retroalimentar sua
baixa autoestima quando o saudável seria ajudá-lo a se emancipar do círculo
vicioso de autodestruição.
Se não decidirmos por
nossas próprias vidas, alguém o fará por nós, e dificilmente será em nosso
favor. Este é um processo de terceirização de destinos, infelizmente tão
presente em nossa terra brasileira. País que leva nossos jovens mais bem
formados e talentosos a sonharem com concursos públicos e empregos
burocráticos. Para muito longe, portanto, da atividade produtiva, única capaz
de gerar riqueza e emprego para todos.
Publicado no jornal Cinform em 29/08/2011 –
Caderno Emprego
Publicado no Jornal do
Comércio / SE – Editorial ago/2011