O conhecimento sobre os temperamentos humanos tem uma grande aplicabilidade nas empresas, escolas, times desportistas, movimentos populares, tratamentos terapêuticos, dentre outros. Ainda no século
Assim, um relatório
elaborado pelo Padre Provincial Pedro Rodrigues no ano de 1598 retrata os 163
jesuítas presentes em nossa terra com a seguinte compleição: 142 coléricos, um
melancólico, 10 fleumáticos e 10 indefinidos. Tal prevalência de coléricos está
registrada nos relatórios seguintes até o ano de 1660. Por óbvia e
antropofágica razão, creio.
Igrejas evangélicas muito
bem se utilizam desse conhecimento para orientar seus fiéis na busca de
melhores relacionamentos conjugais, familiares e laborais. Nas suas páginas na
internet encontramos farto material sobre o tema.
No século 20, além de
Rudolf Steiner – criador da Pedagogia Waldorf, Carl Gustav Jung, psicólogo
discípulo de Freud, apresentou estudos contemplando os 4 ‘tipos psicológicos’.
Mas foi o psicólogo americano William Moulton Marston, nos anos 30, quem deu
outra roupagem aos temperamentos, visando sua direta aplicação nas empresas, ao
definir a construção de gráficos que apresentam pontos de maior e menor
expressão dos temperamentos individuais, permitindo, deste modo, atenuar ou
fortalecer as características desejáveis à boa performance do trabalhador ou do
empregador.
De acordo com
Marston, os padrões comportamentais se dividem em dominância, influência,
estabilidade e conformidade, diretamente associáveis aos temperamentos
colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico, nesta mesma ordem. Certamente
para um vendedor, por exemplo, será de grande utilidade ter algum conhecimento
sobre características comportamentais para auxiliar seu trabalho.
Ao abordar um cliente
colérico, é de se esperar que ele se mostre arrogante e pouco disposto a
ouvi-lo. Caso o cliente agora seja do tipo melancólico, ele poderá pedir
informações em tal nível de detalhe que dificulte a obtenção de respostas. Já
com um cliente sanguíneo, a tendência é que ele falará muito e desejará
soluções rápidas devido a sua tradicional impaciência para com rotinas e
processos. Finalmente, ao atender um cliente fleumático, o desafio do
incansável vendedor será fazê-lo se sentir seguro do que lhe é oferecido e
depois conseguir a rápida decisão de efetuar a compra.
Estes exemplos são
emblemáticos, porém, demonstram os padrões de comportamentos esperados.
Certamente, será muito mais fácil para um vendedor que consiga diagnosticar o
temperamento típico do comprador, realizar uma venda mais célere e satisfatória
para ambos.
Outras características
potenciais para melhorar o desempenho no trabalho resultam de temperamentos
combinados na mesma pessoa: o colérico/sanguíneo possui talento nato para a
liderança. Igualmente, o melancólico/fleumático se sairá muito bem quando o
assunto for análise. A combinação sanguíneo/fleumático oferecerá muita
habilidade para o relacionamento.
Contrariamente se deve
evitar a formação de duplas de alta interação compostas por sanguíneo e
melancólico, bem como, colérico e fleumático. São os opositores naturais.
Para organizar salas de
aulas, melhor será manter como vizinhos de carteiras jovens de temperamentos
semelhantes. Esta proximidade neutralizará predomínios de um sobre o outro, ao
aumentar o respeito entre eles e reduzir o bullying. O objetivo deve ser sempre
a combinação do tipo ganha-ganha.
Tudo que está apresentado
aqui é uma pequena mostra sobre como os temperamentos humanos podem ajudar nas
organizações. Ressalte-se, porém, que não existe temperamento puro ou
homogêneo. Além disso, jamais se deve utilizar esse conhecimento para rotular
pessoas ou se mostrar superior a elas. Não existe temperamento melhor ou pior,
pois cada qual possui vantagens e patologias típicas.
O ser humano pode, em
verdade, se emancipar de todas as forças de comportamentos, não se subordinando
a nenhuma delas por meio de sua vontade. Além disso, nosso temperamento muda ao
longo da vida: na infância somos mais sanguíneos, na adolescência tendemos a
coléricos, na fase adulta há mais melancolia e na velhice, a fleuma típica.
Alguns outros fatores que
influenciam nos padrões comportamentais são: posição na constelação familiar - primogênito,
etc -, signo zodiacal, gênero e biotipo. Portanto, sejamos humildes e
procuremos percorrer um longo caminho em busca de si próprio, antes de
julgarmos o próximo. Enfim, “conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os
deuses”.
(continua)
Publicado no jornal Cinform em 18/07/2011 –
Caderno Emprego