segunda-feira, 11 de abril de 2011

Índio quer apito? Não!!! Índio quer iPad



     Diz a lenda que com a chegada dos portugueses em nossas terras tupiniquins, a aproximação pacífica junto aos índios aconteceu sob a oferta de presentes inusitados aos antigos donos da terra. Dentre estas quinquilharias estavam espelhinhos, adereços, colares, adornos, e outros um-e-noventa-e-nove.


Trato esse assunto como lenda por não acreditar que nossos antepassados, de ambos os lados, fossem tão ingênuos. Também não sei como é possível um povo invasor, numericamente insignificante, dominar outro em sua própria selva. Penso que a única explicação plausível é a formação de alianças militares entre portugueses e índios para combater outros índios. O combate na floresta é dificílimo. Que o diga o americano derrotado no Vietnã, a despeito de toda tecnologia de guerra moderna, ainda ineficaz na selva.


O lance mais sedutor desse descobrimento brasileiro foi o acesso a tecnologias desconhecidas pelos anfitriões. O aço dos facões, as embarcações, os tecidos, os animais domésticos, especialmente as galinhas e cães. Em troca, os nativos forneceram pau-brasil, matéria-prima para a produção de tintas vermelhas, raras para a indústria têxtil da época, e animais silvestres. Para nossos índios, esse encontro significou um salto tecnológico de dezenas de milhares de anos, pois, aí tiveram contato com a linguagem escrita, a tecnologia do ferro e as naus transatlânticas, dentre outras tecnologias úteis ao dia a dia, a exemplo dos anzóis e machadinhas. Imaginemos que ganho isso representou para eles. Em contrapartida vieram doenças terríveis e vícios pessoais e sociais.


Assim, começa um longo processo de Brasil colônia. Brasil da exportação de matéria-prima e da importação de bens tecnológicos que perdura ainda hoje. Um interessante parâmetro para avaliar nosso desempenho industrial é o preço do quilo de bens exportados comparado ao preço do quilo dos bens importados. Nessa comparação veremos que não estamos bem na foto. Grosso modo, um único quilo de satélite, que importamos, tem o mesmo preço que um milhão de quilos de soja que exportamos. Assim, afirmam autores de referência.


Então, para melhorar a qualidade dos produtos brasileiros exportados, além dos necessários investimentos em pesquisa e desenvolvimento – P&D, pré-requisito para a inovação e a redução da sufocante e injusta carga tributária, nós temos de investir maciçamente em formação tecnológica e em educação básica, bem como, ajustar o câmbio à realidade.


À medida que mantemos o Real artificialmente forte priorizamos as importações e dificultamos as exportações. Isso significa sucateamento da indústria nacional e consequente perda de competitividade. Em outras palavras, criamos um círculo vicioso que nos afasta cada vez mais do mercado internacional e compromete nosso saldo da balança comercial. Este saldo incrementa a reserva cambial e nos dá segurança contra movimentos especulativos e quebradeira econômica, embora seja um dinheiro caro por ser muito mal remunerado quando comparado aos nossos estratosféricos juros internos: quatro vezes superior. Há economistas que afirmam que essa reserva, mal remunerada, nos custa 1% do PIB anualmente.


Devido aos robustos 300 bilhões de dólares de nossa reserva cambial recentemente convivemos com a crise financeira internacional que não se fez tão visível contra nossa economia. Mas, seguramente teve um custo alto para todos nós, na forma de dívida interna e custo da máquina pública.


A economia de bens e serviços produzidos pelo país não pode existir na qualidade de refém da abusiva valorização do Real. A permanência nesses níveis cambiais pode significar um retrocesso ao desenvolvimento. Isto é, um desastroso retorno ao Brasil rural do início do século passado, com o agravante de nem sequer possuirmos um agronegócio verdadeiramente nosso, posto que sua tecnologia é, também, importada e sua operacionalidade através de satélites, GPS e transgênicos nada tem a ver com o nosso homem do campo. Trata-se de uma agricultura usuária da área rural, mas, notadamente gerida técnica, comercial e financeiramente nos grandes centros cosmopolitas. Com o cambio atual geramos bons empregos na China, EUA e Europa; e subempregos no Brasil.


Deixando o economês para lá, podemos ver que a história do Brasil muda de atores e cenários, mas continua sendo palco de um mesmo enredo colonialista. Onde a soja é o novo pau-brasil e o iPad o moderno e inusitado espelhinho do século XXI.    


Se a humanidade nasceu de uma mesma origem, a chegada dos europeus por aqui significa um momento muito especial. Daí, termos a responsabilidade de encaminhar ao desenvolvimento comum a terra que permitiu o reencontro de toda a humanidade, emblematicamente ocorrido num transformador Domingo de Páscoa.


            

Publicado no jornal Cinform 11/04/2011 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial abr/2011
Publicado na revista Tecnologia da Informação & Negócios nº 00/2011 – edição inaugural

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