terça-feira, 1 de março de 2011

A economia da atitude



     A história ensina que a economia se baseia em pilares de sustentação, em torno dos quais tudo gira. Quando olhamos o mundo moderno, isto é, da revolução industrial para os dias atuais, o que vemos é a passagem por paradigmas econômicos fundamentais. O primeiro desses está vinculado ao fazer, ou seja, às habilidades manufatureiras. Sua lógica determinante é a busca da eficiência e precisão nas fábricas, que consiste em montar com eficiência, ajustar tempos e movimentos humanos às máquinas e linhas de montagem e aumentar a eficiência energética. Enfim, surgem aí o fordismo e a administração científica de Taylor. Essa é a economia da habilidade.


Ficar parado não é condição que se aplique à economia. Logo, vem a partir da segunda guerra mundial, durante a chamada guerra fria, uma nova onda que rapidamente ocupa a maior fatia da economia mundial contemporânea. É a economia do conhecimento. Nesse modelo, os ativos mais valiosos são os produtos intangíveis, aqueles desprovidos de matéria ou extremamente miniaturizados como, por exemplo, softwares, biotecnologia e transgenia, entretenimentos hollywoodianos, patentes, marcas e direitos autorais. Essa economia do conhecimento, no mesmo ritmo veloz em que se expande, também exclui, na medida em que exige escolaridade, empreendedorismo, pesquisa e inovação. Insumos raros para países periféricos, onde capital humano e capital social se mostram escassos e só são alcançados a contento, no prazo de gerações.


Vivemos extasiados pelo pensamento, afinal, só aí somos verdadeiramente livres. Assim, supervalorizamos o discurso bem pronunciado, ainda que vazio, a competição do vestibular, a lógica cartesiana e fria da informática e até a racionalidade e a inteligência de nossas crianças. Paralelamente, esquecemos ou tratamos de forma distante a formação do caráter, as boas maneiras, a convivência harmoniosa e produtiva, o trabalho em grupo, as ações voluntárias de ajuda social, o cuidado com o meio ambiente, o respeito ao próximo e a muitos outros valores da alma humana que precisam ser educados igualmente.


A economia da atitude, título deste artigo, nos remete a uma zona invisível, sobre a qual autores e formadores de opinião não costumam falar, mas, certamente representa uma significativa parcela do PIB. Inúmeros consultores nos apontam que a principal causa de demissão nas empresas é atitude ou comportamento inadequado, chegando a representar mais de oitenta por cento do total das causas apresentadas. Daí, em quanto eleva o custo das empresas a substituição precoce de funcionários? 


Vemos, a todo instante, campanhas públicas para o combate à dengue. Muito da proliferação do mosquito vetor decorre da atitude das pessoas em favorecer a acumulação de água em vasos, garrafas, pneus, etc. Quanto custa a dengue à sociedade? Da mesma forma, detritos, sacos plásticos e diversos entulhos largados à rua são causadores de entupimentos de esgotos e drenos de águas da chuva. Qual o prejuízo social de uma inundação urbana?


Dirigir embriagado ou cometer imprudências ao volante são problemas comportamentais caríssimos aos cofres sociais. Dos acidentes automobilísticos decorrem muitas perdas irreparáveis como mortes e invalidez, além de danos materiais e serviços hospitalares onerosos.


A violência urbana, a corrupção, as drogas, o número de roubos de carros tão grande que somente 3 ou 4 montadoras teriam condição de produzir o suficiente para repor os carros roubados no Brasil, são comportamentos criminosos, decorrentes de falhas de caráter.


O famoso cientista e poeta alemão Goethe afirmava que “é na solidão que se educa o talento e na torrente do mundo o caráter”. Desta sentença concluímos que educar o pensar, sem educar o sentir e o agir produz pessoas potencialmente deformadas. Nossos adolescentes vivem uma grande solidão, trancados em condomínios, transportados para a universidade em condução escolar (sic), mergulhados na internet ou nos games. Estão, assim, perdendo a oportunidade de desenvolver o social, prioridade máxima dessa faixa etária. Apesar de serem extremamente talentosos, muitos, porém, encontram-se inapetentes para o social. Pela falta de embates nos contatos diretos com outros, como estão quanto ao desenvolvimento do caráter?


Sou dos que acreditam na educação e no seu poder de bem formar seres humanos. Desta forma, não vejo possibilidade de crermos em educação sem a participação direta das famílias na escola, nem nas escolas que educam para o vestibular. A educação deve atuar no intelecto, na convivência e na ação, afinal, de tudo que estudamos só ficamos com aquilo que pomos em prática.


Espero ver esta nasciturna economia da atitude em ação ao produzir uma sociedade de paz e reduzir o custo social gerado por atos destrutivos. Concluo que educação é o melhor dos investimentos que se pode fazer em um país. O custo não é educar, é não educar.




Publicado no jornal Cinform 28/02/2011 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial fev/2011

Publicado na revista Tecnologia da Informação & Negócios nº 08/2012
            Publicado na revista Jovem Empreendedor nº 01, maio/2014

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