segunda-feira, 19 de abril de 2010

A lan house do futuro e o futuro das lan houses

           

Neste mês de abril se divulgou mais uma interessante pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI-Br) sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação, conhecidas por TICs. Trata-se da quinta pesquisa anual, reveladora, portanto, da realidade brasileira de hoje e de suas tendências.


            Não há grandes surpresas nesta nova pesquisa. Sabemos que a popularização do computador e dos instrumentos de comunicação é real e crescente. Hoje, tornou-se tão comum o uso da internet que até programas voltados para pessoas de baixa renda são disponibilizados, alguns até exclusivamente, na grande rede, a exemplo do Prouni, Enem e Minha Casa Minha Vida. Mas vale destacar o seguinte: pela primeira vez o número de usuários brasileiros de computadores em casa (48%) supera o número de usuários de lan houses (45%), no acesso a internet. Tais indicadores não se aplicam ao nordeste brasileiro, onde a proporção dos usuários da internet é de 29% em casa, para 63% em lan houses. Também, nacionalmente, 72% dos internautas com renda de até 1 salário mínimo são clientes de lan houses. Enquanto isso, os telecentros respondem por apenas 4% destes.        

            Os computadores são máquinas que exigem maior capacidade cognitiva que as meramente mecânicas. Seus usuários, conseqüentemente, terão maior poder de explorar as potencialidades informáticas quanto maior for seu nível de conhecimento. Falo de conhecimento propriamente dito, e não de habilidades. O computador é uma extensão do cérebro humano, enquanto máquinas mecânicas como o liquidificador ou a empilhadeira são prolongamentos alavancados do nosso corpo físico. Vejo que muitos usam o computador com muita habilidade e pouco conhecimento, certamente, por estarem presos às limitações impostas pelo software, que reduzem a infinitude do computador a um conjunto pobre de menus.


            A educação formal deve nos dar a possibilidade de pensar com mais elasticidade e abstração. Dispor de vários códigos de representação mental como o alfabeto, os numerais, uma vasta iconografia e imagens mitológicas ou arquetípicas nos ajudarão nesta tarefa, pois, ampliam nossa capacidade de explicitar e internalizar conhecimentos. Como vemos, dominar mais de um idioma, estudar filosofia e praticar artes são meios ampliadores de nossa capacidade de compreensão do mundo atual e de seu desenvolvimento tecnológico, posto que, ambos estão perfeitamente imbricados e associados à essência da própria natureza humana. Quanto mais conseguirmos explicitar e codificar conhecimentos mais conseguiremos ampliar o uso do computador como ferramenta tecnológica.


            Digo isso porque, infelizmente a realidade escolar brasileira é dramática. Desnecessário se faz detalhar sobre isso, todas as pesquisas e artigos sobre o tema são assombrosos. O fato é que com a grande atração que os computadores exercem sobre os jovens, principalmente, temos na internet uma possibilidade de ampliação do conhecimento das populações mais excluídas desde que: a) desenvolvam-se conteúdos bons e adequados ao nível de escolaridade (não basta ser gratuito), já que para um usuário de internet de pouca ou nenhuma capacidade de leitura a rede oferta apenas jogos, erotismo e algum lazer. Nada mais. b) haja mediação para o uso adequado destas tecnologias. O mediador agirá pedagogicamente, orientando o usuário na escolha e navegação de serviços disponíveis na rede. Uma transferência de conhecimento tácito e explícito que só é possível numa relação pessoal de proximidade.


            Nesse cenário é que vejo um futuro duradouro para as lan houses. Esses empreendimentos precisam diferenciar sua atuação para não concorrerem tão diretamente com os crescentes computadores domésticos. Para isso, é recomendável o associativismo das lans, há associações na Grande Aracaju e Estância; a formalização do negócio, já que existem novas e vantajosas modalidades como a de Empreendedor Individual; representar produtos web, via credenciamento de algumas empresas ou cursos; e profissionalizar-se para mediar os usuários nos serviços e produtos que ofertam. 


            Sergipe é pioneiro no trabalho de organizar e profissionalizar as lan houses, sendo referência nacional neste assunto, inclusive no sistema S. Eu, pessoalmente, já apresentei as sugestões a seguir em vários momentos de destaque, a exemplo da Fundação Getúlio Vargas (RJ) juntamente com a Mozilla Foundation (EUA), Campus Party Brasil de 2009 e 2010, Audiência Pública na Câmara Federal em 2010 e diversos outros eventos estaduais, inclusive no Pará.


São quatro pilares que apresento, didaticamente, de nichos de mercado para a especialização das lan houses: 1) Serviços públicos – São inúmeros os serviços disponíveis na internet. Imposto de renda, boletins de ocorrência, solicitação de título de eleitor, CIC/CPF, PROCON, etc. Ou seja, uma significativa parcela de serviços realizados pelo CEAC poderia ser feitos também em lan houses credenciadas. 2) Comércio eletrônico - Toda lan house pode tornar-se uma loja sem estoque, comercializando desde eletrônicos até material escolar, evitando-se as insuportáveis e tradicionais filas, além de poderem se especializar na venda de passagens aéreas, rodoviárias e pacotes turísticos. 3) Educação - A educação a distância (EaD) cresce em ritmo superior à modalidade presencial. Há lan house que de tanto vender curso a distância de uma faculdade de Santos, virou posto avançado dessa mesma faculdade. Neste quesito, o município de Estância tem o melhor exemplo brasileiro de educação formal em lan houses, em parceria com a escola pública, em um serviço mediado por empreendedores capacitados. 4) Suporte social - Redes sociais, emails, apoio a usuários idosos ou com deficiência, pesquisas, lazer, entretenimento disponível a baixo custo, dentre outros.


            Para todos os pilares acima, tenho conhecimento de exemplos em pleno funcionamento, em Salvador, Manaus, Natal, além de Sergipe, que demonstram a viabilidade do que vislumbro. Assim, convido todas as lan houses sergipanas a procurarem o SENAC para melhor detalhamento deste assunto.


            Acredito que as lan houses podem ser empreendimentos comerciais lucrativos e ainda prestarem um relevante serviço de interesse social para a construção de um Brasil economicamente democrático e justo, onde a micro empresa seja protagonista.



 
Publicado no jornal Cinform 19/04/2010 – Caderno Emprego
            Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial mar/2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Como proteger seus filhos e alunos da internet

 

Esse título é o tema da palestra homônima proferida no SENAC de Sergipe durante as comemorações da Semana da Inclusão Digital 2010, pelo professor Dr. Valdemar Setzer. Uma palestra realmente empolgante que apesar de durar quase três horas, fez os participantes não sentirem o tempo passar. O assunto deve ser tratado como uma prioridade nos dias atuais, tal a escala de famílias que convivem com este problema e uma grande parcela destas, nem sabe.


A internet pública é muito nova. No Brasil só a encontramos neste formato comercial que a conhecemos hoje, a partir de 1994, limitada a alguns lugares e com acesso caro e lento. Porém, por conta de sua jovialidade não a devemos subestimar. A última pesquisa sobre internet brasileira feita pelo CGIBR – Comitê Gestor da Internet no Brasil – revela a existência de cinqüenta e quatro milhões de brasileiros usuários da rede em 2008, número que deve ter aumentado muito até os dias de hoje. No mundo, estima-se que em 2011 dois bilhões de pessoas, um terço da humanidade, portanto, estará usando a grande rede.


A internet em si não é ruim nem boa. Como qualquer tecnologia, seu uso pode ser construtivo ou destrutivo para o homem. Eu, particularmente, sou um grande usuário da internet e nela vejo, igualmente, grande utilidade.


Acontece que a internet não inventou nada de bom ou de ruim para a alma humana. Tudo que nela se manifesta já ocorria antes numa escala mais restrita, nos permitindo manter distância segura do que nos ameaçasse. Enquanto tecnologia, a internet revoluciona por ter suprimido o espaço geográfico. Nela, todos têm o mesmo tamanho. Nela, não existe endereço da capital ou do interior. É realmente uma libertação do homem em relação ao espaço físico.


E aqui começam também os perigos. Se antes a geografia nos resguardava, pois conseguíamos manter nossas famílias protegidas das mazelas do mundo quando passávamos a chave na porta, hoje, não podemos mais dizer o mesmo. O professor Valdemar Setzer diz que deixar uma criança ou adolescente com livre acesso a internet é equivalente a largá-la sozinha à noite em uma esquina de São Paulo. Nós adultos temos implantado em nossas cabeças o paradigma do espaço físico e não dimensionamos a revolução que a supressão dele traz para a cultura humana. Por exemplo, ninguém de boa fé elogiará um adolescente que furte um livro em uma livraria. Porém, se este mesmo adolescente o fizer através de um download na internet será visto como inteligente e praticamente todos pensarão que o jovem não causou mal algum. Será que o crime está em roubar papel? Será que ao comprar um livro o fazemos porque precisamos de papel ou de seu conteúdo?


Essa mesma falta de entendimento da realidade virtual nos leva a minimizar a compreensão que fazemos de seus possíveis problemas. Quando precisamos de ajuda em alguma área do conhecimento, como Direito ou Arquitetura, procuramos um especialista que nos oriente. Certamente, resistiríamos muito em aceitá-lo, se tal especialista fosse uma criança ou jovem adolescente. Sabemos que a imaturidade é (naturalmente) limitante para a responsabilidade e a compreensão das conseqüências dos próprios atos. Assim, de pronto recusaríamos tal “especialista”, já que procuramos alguém que nos dê segurança e saiba bem mais que nós. Como disse o professor Setzer, qualquer adolescente de quinze anos sabe bem mais que os pais sobre computação e internet. Aqui, eles são os especialistas e nós precisamos de ajuda para acompanhá-los e sabermos o que efetivamente fazem quando estão na internet. Apesar do amplo saber operacional que possuem sobre computadores e sistemas, não deixam de ser adolescentes ou crianças em sua essência, e como tal, sujeitos a enganos e ingenuidades típicas da idade. Ingenuidade, aliás, que é a porta de entrada de predadores sexuais e criminosos que buscam informações sobre os pais e a família para aplicação de golpes financeiros em contas bancárias ou seqüestros, por exemplo. Os jovens têm a maravilhosa tendência a achar que o mundo é bom, belo e verdadeiro e com essa visão desenvolvem a certeza de mais tarde poder contribuir para a humanidade com sua força e crença. E só serão adultos com energia para realizar seus sonhos se esta visão do mundo for preservada. Nada contribuirá para o desenvolvimento saudável de uma criança crer que o mundo é mau, isso só a tornará um adulto inseguro. Assim, cumpre-nos o dever como pais e educadores, de assegurar proteção aos menores para que fortaleçam suas almas em formação com bons alimentos. Desta forma, o recomendável é não deixar crianças e adolescentes livres na internet, ou melhor, crianças nunca deveriam usar a internet, é o que defende o professor Setzer com a autoridade de quem publicou inúmeros livros, foi professor titular do Instituto de Matemática da USP por muitos anos, onde ainda leciona voluntariamente depois de aposentar-se, e defende a preservação da infância e a educação integral dos seres humanos com o radicalismo que sua titularidade acadêmica permite e sua paixão pela Pedagogia Waldorf reforça.


Creio que vale a pena saber mais sobre esse assunto e como agir junto aos filhos e outras pessoas vulneráveis aos males cibernéticos. Pesquisem no Google com o seguinte argumento: setzer proteger que encontrarão um artigo sobre o tema da palestra, e uma porta para seu site com muitos artigos e resenhas, além de slides de suas palestras. Também está disponível no SENAC o DVD gratuito com essa palestra do professor Setzer por meio do email senac@se.senac.br



Publicado no jornal Cinform 05/04/2010 – Caderno Emprego