Dias atrás, vivi a oportunidade de participar como palestrante no 1° Encontro de Empresas Juniores na UFS, quando falei sobre a economia sergipana e as tendências de mercado promissoras para nossas empresas juniores. Naturalmente, não possuo bola de cristal para adivinhar o futuro, mas passei para os jovens empreendedores indicadores que anunciam as mudanças mais claras, a exemplo de questões ambientais, envelhecimento populacional, empreendedorismo, interiorização e empoderamento local, dentre outras. Porém, a minha maior satisfação em participar do evento foi sair de lá com a certeza de que alguns tabus e dogmas começam a ser quebrados no ambiente acadêmico. Lá estavam empresas juniores de engenharia florestal, administração, economia, ciências contábeis, química e outras, apresentando caminhos que aproximam o valioso conhecimento acadêmico do grandioso espaço reservado às micro e pequenas empresas no campo da inovação.
É sabido que o Brasil
pouco investe em P&D (pesquisa e desenvolvimento) na iniciativa privada.
São diversas as razões para isso e podemos enumerar algumas: primeiramente, a
pouca pesquisa realizada no Brasil está concentrada principalmente na
universidade pública. Isto é, 73% dos pesquisadores brasileiros estão nas
universidades, enquanto nos EUA apenas 13% estão nelas. Já os centros de
pesquisas brasileiros têm 11% dos pesquisadores ante os 79% dos
norte-americanos. Em segundo lugar vem o difícil relacionamento público-privado
brasileiro, onde empresário e lucro são mal vistos. Com certeza, é muito
difícil conseguir a cessão, ainda que temporária, de um pesquisador de
universidade pública para desenvolver seu projeto em uma empresa privada.
Diferentemente, este mesmo pesquisador é gentilmente cedido para algum órgão
público. Assim afirma o doutor Jacques Marcovitch —
reitor da USP de 1997 a
2001, autor da série "Pioneiros & Empreendedores".
Certamente, os argumentos que a universidade
apresenta para defender seu ponto de vista são bem fundamentados e embasados em
citações sólidas. Fortes também são os argumentos da iniciativa privada que
necessita de P&D e não consegue fazê-lo deslanchar, embora todos saibam que
a interação será vantajosa para todos, como disse Carlos Henrique de Brito
Cruz, presidente da Fapesp: “Com orçamento anual de R$ 13 milhões, o Instituto
de Física da Unicamp já deu origem a 12 empresas de alta tecnologia, que
faturam R$ 300 milhões. Diga-me qual investimento rende mais de 20 vezes".
Os institutos de pesquisas devem mediar essa
importante aproximação entre as demandas tecnológicas do mercado e a pesquisa
universitária. Assim aconteceu na Coréia
do Sul, país que em apenas três décadas elevou a renda per capita de seu povo
em seis vezes com relação à brasileira no mesmo período. Nessa Coréia,
encontra-se a sede da Nokia, maior fabricante de telefonia celular do mundo,
mas que na década de 80 era apenas um fabricante de botas de borrachas. Tal
fato ilustra o esforço empreendido na formação de capital humano (educação,
escolaridade, empreendedorismo, inovação, pesquisa) e capital social
(confiança, identidade nacional, valores comuns), pilares da nova economia
mundial.
Aqui entra a vantagem da
micro empresa como fonte de inovação. Se olharmos para o cenário atual, veremos
que grandes marcas líderes como Aplle, microsoft, HP, Bematech (Brasil), Mandic
(Brasil), etc., nasceram em garagens, apartamentos ou em incubadoras de
pequenas empresas ligadas a universidades. Está aí a grande vantagem
competitiva para a micro e pequena empresa sobre as demais: a agilidade.
Diferentemente, na maioria
das grandes empresas a idéia deve nascer no ano anterior para ser contemplada
no orçamento corrente. Uma boa idéia pode sofrer bloqueio hierárquico devido a
vaidades, insegurança ou outras questões de recursos humanos. Para assegurar o
retorno sobre investimento e obter vantagem competitiva, uma boa idéia, durante
sua fase de pesquisa e desenvolvimento, deve ser guardada em segredo, o que é
muito difícil na grande empresa. Além de tudo isso, um pesquisador apaixonado
por seu trabalho peleja em busca de uma resposta, horas seguidas, de forma
incansável, independentemente se é dia, noite, sábado, domingo ou feriado. Como
fazer isso numa empresa burocratizada, normatizada e zelosa para evitar
contenciosos trabalhistas?
Naturalmente que o poder
econômico está do lado da grande empresa. Dentre os 100 maiores PIBs do mundo,
mais da metade são oriundos de conglomerados econômicos e só a menor parte é
formada por países. Por isso, uma boa
idéia que se transforma em inovação finda por ser adquirida por grandes
empresas, seja através de fusões, incorporações, sociedades ou pela simples
compra da propriedade intelectual. Ainda assim, pode ser extremamente vantajoso
para as micro e pequenas empresas negociarem seu invento.
Devemos defender a micro
empresa e assegurar que disponha de um ambiente saudável para sua
sobrevivência. A micro empresa não é um acidente de percurso simplesmente
porque ainda não cresceu. Ela deve ser valorizada e protegida por leis para que
possa cumprir o papel que a nova economia lhe tem destinado: ser um agente de
inovação, criatividade, empreendedorismo e geração de empregos, trabalho e
renda para nosso país.
Publicado no jornal Cinform
14/09/2009 – Caderno Emprego
Nenhum comentário:
Postar um comentário