terça-feira, 7 de julho de 2009

Informalidade e improdutividade


       A informalidade é a principal barreira ao desenvolvimento econômico brasileiro, segundo pesquisa realizada pela consultoria McKinsey em 2005. Nesse estudo, atribui-se à informalidade a grandeza de 39% da perda de produtividade no Brasil, além de outros fatores que apresentamos a seguir: a instabilidade macroeconômica com 13%; ineficiência e precariedade dos serviços públicos com 8%, e falta de infra-estrutura com 5% da mencionada  perda. Todos estes fatores, aponta o estudo, podem ser resolvidos de curto a médio prazo através de políticas de Estado estáveis e bem sucedidas, aplicadas ao longo de 12 anos, que consistem na redução da informalidade de 40% para 20% do PIB; na diminuição da instabilidade macroeconômica, cortando gastos correntes do governo de 30% para 25% do PIB; no corte pela metade do tempo de solução e do número de novos processos judiciais e na melhoria da infra-estrutura, aumentando o percentual de investimentos de 2,4% para 6% do PIB. Tais medidas elevariam a renda per capita brasileira para 16.400 dólares, dobrando seu valor em termos reais, em 10 anos.

Esta pesquisa revela ainda que a produtividade do brasileiro é de apenas 18% face à produtividade do trabalhador norte-americano. Desta forma, temos de trabalhar em média 5 vezes mais que eles para gerar o mesmo produto. Digo em média, porque a perda de produtividade varia conforme o setor econômico. O setor de menor perda comparativa entre Brasil e EUA é o bancário, no qual atingimos a marca de 67% da produtividade dos “senhores de olhos azuis”. Sequencialmente temos o setor automotivo com 29%, a construção com 28%, o varejo com 25%, e, pasmem, a agricultura com ínfimos 5%.

É de se estranhar que justamente o setor agrícola, abrigo do nosso pujante agro-negócio, que participa decisivamente da nossa carteira de exportações, apresente índice tão acanhado de produtividade. O esclarecimento provém da agricultura de subsistência, carente de recursos tecnológicos mínimos. Ela se mostra desigual entre a agricultura mecanizada, dita de precisão, e a rudimentar agricultura familiar de subsistência.

A análise dos números acima nos faz ler que quanto menor a informalidade (setor bancário), maior a produtividade, e vice-versa (setor agrícola).

Esta consultoria McKinsey já afirmou em outra pesquisa que uma redução de 20% da informalidade dará ao Brasil ganho de 1,5% no PIB, além de revelar que o Brasil é responsável por 10% da pirataria musical do mundo e que 55% dos nossos trabalhadores estão desprotegidos.

 São números expressivos que, por si só, justificam a implantação de políticas econômicas planejadas e elaboradas com a visão de longo prazo, típica de programas nacionais de desenvolvimento com visão sistêmica, que independam de governos e orientações ideológicas.

Análises comparativas entre países nos mostram que a renda per capita está diretamente relacionada à produtividade. Se, como vimos, a produtividade norte-americana é 5 vezes superior à nossa, também vemos a renda per capita do Tio Sam ser 4 vezes superior à Tupininquim. Esta proximidade de números relativos entre a renda e a produtividade per capita se repete em vários outros países quando dispostos em um gráfico cartesiano, formando uma nuvem quase reta de pontos.

Como este estudo aponta que a produtividade das iniciativas informais é de apenas 45% da produtividade das formais, sugiro que os programas governamentais de combate à informalidade sigam na direção do ganho de produtividade. Assim, a passagem da informalidade para a formalidade será vantajosa para todos. Ganha o empreendedor, ganha o Estado e, principalmente, ganha a sociedade brasileira. Não basta a vantagem relativa, ofertada pelo tratamento tributário diferenciado, a exemplo do (Micro) Empreendedor Individual – MEI - Lei Complementar 128/08. É preciso sensibilizar o público para quebrar a cultura da informalidade que, lamentavelmente, está tão presente na cabeça do brasileiro, e capacitar o pequeno empreendedor para que se instrumentalize e cresça produtivamente no combate ao desperdício, na visibilidade do seu negócio (publicidade), no giro otimizado do estoque e do capital, nas melhores práticas do seu ramo de atividade, na formação correta de preços, na visão de mercado e seu posicionamento (marketing), no acesso ao crédito, na cultura do associativismo, dentre outras inúmeras noções de técnica de gestão e profissionalização. Nesse espaço o Sistema “S” passa a ser decisivo: tem competência comprovada, tradição e credibilidade, recursos humanos, pedagógicos, materiais e capilaridade para enfrentar a desafiadora missão como nenhum outro organismo no país.  

Outro fator que responde por 35% da perda de produtividade é a excessiva pobreza presente na Terra Brasilis. Neste nível, a pobreza produz continuamente um círculo vicioso de ampliação da própria pobreza. A escola pública é ruim, mas “é grátis”, então não se deve reclamar. Ou ainda, “ruim com ela, pior sem ela”.

A nossa elite é muito reduzida para dar conta rapidamente do passivo social brasileiro. A saída só é possível a longo prazo, porém, é consensual e  se chama educação. Entenda-se educação no sentido amplo da palavra: educar o pensar (cognição), o fazer (volição) e o sentir (emoção), tarefa de pais e educadores.

Por fim, espero ver o dia em que informalidade seja sinônimo de confiança nas relações pessoais e empresariais e ainda de desburocratização, e não sinônimo de clandestinidade, como hoje se aplica no nosso querido Brasil.



Publicado no jornal Cinform 06/07/2009 – Caderno Emprego

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