quinta-feira, 20 de março de 2025

Transformação Digital e Transição Energética: encontros e desencontros

 

 

O curioso título deste texto reflete expressões da moda. Mas o que tem a ver uma com a outra? Frequentemente, desde 2006, a famosa frase “dados são o novo petróleo” é citada para efeito de comparação, enfatizando a riqueza que ambas representam em comum.

O petróleo, mineral energético, tem sua produção em contínuo crescimento, ainda que sob a pressão dos discursos contrários por parte daqueles que o veem como principal causador do efeito estufa e do aquecimento global. Acontece que entre as décadas de 1930 e 1970, 85% das reservas mundiais deste hidrocarboneto estavam sob o domínio das chamadas Sete Irmãs (leia-se: Esso, Shell, Gulf, Socal, Texaco, Anglo-Persian e Socony) que dominavam a economia mundial. Contudo, ao final deste período, se inicia uma alteração profunda nesse reinado fraterno com a formação da OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo, culminando com a “crise do petróleo de 1973” que abriu espaço para o surgimento de novos players nos países produtores, a exemplo de Venezuela, Arábia Saudita e Irã, pulverizando o domínio da extração da riqueza e reduzindo drasticamente o acesso das Sete Irmãs, que hoje são apenas quatro, detendo cerca de 3% das reservas.

Sucessoras, ou não, o ano de 1975 contempla o surgimento da Microsoft, seguido de imediato pela Apple, iniciando a ascensão de novos agentes de acumulação de riquezas mundiais, similares às Sete Irmãs, agora formados pelas Big Techs (Microsoft, Apple, Google, Amazon, X, Nvidia e Meta), todas norte-americanas, líderes das tecnologias digitais e presentes em todo o planeta.

Não há de se estranhar que além de minerar petróleo no subsolo, estamos a minerar dados (data mining) na nuvem, formada por sistemas de servidores com alta capacidade de desempenho, armazenamento e disponibilidade. Desta maneira, os dados surgem como um novo recurso mineral que extraímos, refinamos, compramos, vendemos e avaliamos da mesma forma que fazemos com o petróleo.

Quiçá a abundância de dados não se converta em poluição, uma vez que nossa habilidade maior no uso da internet já consiste em saber filtrar as informações para obtenção de respostas seguras, bem como haja mais segurança contra cyber crimes e controles sobre a IA – Inteligência Artificial. Em paralelo, roguemos que os processos de descarbonização da atmosfera vigorem em escala de reversão do nível de concentração atual.

Fiquemos atentos também ao inesperado crescimento de consumo energético causado pelo mundo digital que se transformou em energo-expansivo, contrariando todas as previsões. Para exemplificar: apenas o consumo de energia com a mineração da criptomoeda Bitcoin supera o consumo total de países inteiros como a Argentina.

Com efeito, necessitamos sabedoria para lidar com as transformações e transições clamadas pelo planeta e pela sociedade para que virem riquezas para todos. Pessoalmente não sei o que fazer para agregar valor em um barril de petróleo em minhas mãos, nem talvez, encontrar um veio valioso em uma coleção de dados na nuvem. Eis o desafio.

Paulo do Eirado Dias Filho, pedagogo, Diretor Presidente do ITP - Instituto de Tecnologia e Pesquisa (Aracaju-SE)

Publicado na revista eletrônica TI&N Edição 27 em 20/03/2025 

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quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Inteligência Artificial (IA): Ouse pensar!

 

Inteligência Artificial (IA): Ouse pensar!


Vamos voltar um pouco no tempo para entender que as grandes transformações da sociedade humana, embora desafiadoras, vêm acompanhadas de soluções evolutivas igualmente impactantes. Assim convido a uma visita ao século XVIII, berço temporal da Revolução Industrial e do Iluminismo.

Nesse tempo, como é sabido, a Revolução Industrial surge na Inglaterra, impactando severamente a raça humana ao superá-la fazendo bens e produtos com ganhos inimagináveis de produtividade e qualidade. O ser humano de então, manufatureiro, viu sua aptidão física e muscular em desvantagem frente à energia do carvão combinado ao vapor da nova maquinofatura. Por certo o medo coletivo do “desemprego” deve ter atingido muita gente.

Ainda no mesmo século, em especial na França e Alemanha, a humanidade respondeu à ameaça provocada pela industrialização emergente com um salto evolutivo que a afastou dessa competição espúria, uma vez que os homens estavam vencidos pelas máquinas na condição de artífices. De que forma? Com o surgimento do Iluminismo simbolizado pelo filósofo Immanuel Kant (1724 – 1804), autor da frase “ouse pensar!” parafraseada no título deste artigo.

A partir de um mergulho interior no ser humano, o Iluminismo invoca o intelecto e eleva a condição humana com o desenvolvimento das ciências, da organização social e política, da formação do Estado, dentre outras conquistas legadas por revoluções ao redor do planeta, a exemplo da Revolução Francesa (1789).

Quando visto nesse contexto, o Iluminismo vem como resposta às ameaças causadas pela Revolução Industrial, demonstrando a superioridade humana sobre as tecnologias que ele mesmo criou.

Após alguns poucos séculos desses fatos históricos que resultaram em tantos ganhos para a humanidade, podemos fazer um paralelo com os dias atuais, frente às ameaças da Inteligência Artificial - IA sobre nós. Se lá atrás a força muscular foi derrotada pelas novas formas de energias, hoje, o pensamento cartesiano e lógico parece repetir a mesma derrota diante do desempenho das máquinas digitais com os fantásticos algoritmos da IA na velocidade da luz. Fica a sensação que a Era da Razão, logo da superioridade humana baseada nesse atributo, se esgotou e que inteligência agora é coisa de máquina. Será que argumentos ainda convencem ou encantam alguém? Que fazer com o “animal racional” diante das big techs?

É hora de partirmos para outro mergulho interior em busca de novo movimento evolutivo construído a partir de faculdades disponíveis sob a forma de potência dentro da infinitude humana. Quem sabe iniciarmos a Era da Consciência, e assim superarmos novamente nossas próprias criações tecnológicas nos elevando ao patamar de “animal consciente”.

Ouso sugerir a criação do movimento “Idonealismo” de consciência e coração éticos que arraste a humanidade à grandeza cósmica a que pertence. Isto é, a esferas supra planetárias onde a internet não chega, mas a nossa consciência e amor já se fazem presentes: “Conhece-te a ti próprio e conhecerás o universo e os deuses”. Oráculo de Delfos.            

Paulo do Eirado Dias Filho, pedagogo, Diretor Presidente do ITP – Instituto de Tecnologia e Pesquisa (Aracaju-SE)

Publicado na revista eletrônica TI&N Edição 26 em 10/01/2025