segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ondas empreendedoras mundiais


A noção de progresso está diretamente relacionada à ação dos empreendedores. Estes são os responsáveis pelas mudanças estruturais, inclusive as mais profundas socialmente, abrindo as estradas por onde a humanidade caminhará. Ou, nas palavras de Nicolau Maquiavel: “os homens trilham quase sempre estradas já percorridas”. Assim, diferentemente da imagem de pessoa gananciosa ou capitalista radical, o empreendedor é um artista, um criador. É aquele que está sempre em busca de realizar sonhos e nunca desiste. Estes sonhos podem se realizar em diversos campos da atuação humana, como artes, negócios, ciências sociais, tecnologia, economia ou política, dentre outros.

     Ao longo da história recente, a primeira grande onda de empreendedorismo surge em torno de 1850, perdurando até 1914, quando explode a I Guerra Mundial. Nesse curto período, a realidade se transformou com a gênese do mundo moderno. Em 1856, a Siemens lança o dínamo, um revolucionário gerador de energia elétrica.

     Já, em 1911, surge a válvula eletrônica, pré-requisito para o acontecimento da televisão e demais eletrônicos. Entre esses eventos, surgem a máquina de escrever, o automóvel, o avião, a lâmpada elétrica, as drogas sintéticas, o rádio, os tratores, o bonde urbano, fotografia colorida, o motor de combustão interna, a cirurgia asséptica, o fonógrafo, o refrigerador e muitas outras invenções que nos fizeram modernos. Por certo, esse foi o tempo em que a humanidade mais se espantou com suas próprias realizações.

     No período entre guerras, de 1914 a 1945, acontece um apagão nos processos inovadores, quando, além da crise mundial decorrente das guerras e do desarranjo econômico, ocorre um mergulho nos processos gerenciais. Isto é, uma introspecção do fenômeno empresarial, que resulta no culto à grande empresa, vista como redentora dos problemas econômicos e sociais e, modelo ideal de desenvolvimento saudável, apesar da forte aliança que mantem com governos e sindicatos. Dessa forma, a pequena empresa passa a ser mal vista nesses tempos, simbolizando um negócio precário.

     Após a Segunda Guerra, as grandes empresas encarnam o modelo Luís XIV – “o Estado sou Eu” –, redefinindo rumos econômicos e sociais às nações. Célebre é a controvertida frase atribuída a Charles Wilson, ex-presidente da GM: “o que é bom para a General Motors é bom para o País”, que vem a ser emblemática dessa relação incestuosa do Estado com a grande empresa, ainda hoje, muito presente, inclusive no Brasil.

     Ao raiar da década de 1980, ressurge o empreendedorismo com força total, ameaçando a grande empresa e o modelo impositivo da economia de escala. A substituição de átomos por bits cria novas oportunidades que favorecem ao empreendedorismo “de garagem”. Inúmeras pequenas empresas surgem na nova onda da economia do conhecimento, muito mais favorável à gestão desburocratizada da pequena empresa do que a da grande corporação.

     Por ser nossa contemporânea, essa segunda grande onda empreendedora assistimos ao vivo e a cores. Na realidade, estamos imersos nela quando “navegamos” na internet, usamos nossos potentes aparelhos celulares, fazemos videoconferência até dentro de um ônibus urbano ou, quando nos submetemos a cirurgias realizadas por precisos robôs. Aquelas garagens de 1980 para cá, ocupadas por estudiosos empreendedores, gestaram as marcas mais valiosas de hoje: Google, Microsoft, HP, Apple e outras.

     Essas ondas empreendedoras globais, como imensos tsunamis, causaram um fenômeno histórico revolucionário: arrastaram o eixo do Ocidente mais ao ocidente ainda. Ou seja, elas deslocaram o epicentro ocidental da Europa para a América do Norte, região que viveu subordinada aos europeus por séculos. Paralelamente, o Brasil se reconhece brasileiro, encontrando seu caminho como nação, exatamente na entressafra potencial europeia – o período entre guerras mundiais –, lançando seu manifesto artístico empreendedor na famosa Semana de 22, incubadora da alma nacional.

     Quanto mais faltar incentivo ao empreendedorismo, mais se cria espaço para o antagônico clientelismo. Para você, isso faz sentido?



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Publicado no Jornal Cinform em 12/05/2014 - Caderno Emprego
Publicado na revista TI&N nº 24 - jun/2015