segunda-feira, 14 de abril de 2014

A gestão é o espírito da coisa

Em nome do bom entendimento, vamos definir o significado do termo “espírito” mais adequado ao texto, de acordo com o Aurélio: “a parte incorpórea, inteligente ou sensível do ser humano; o pensamento; a mente”. Assim, afastamos o caráter religioso ou confessional de nossos propósitos imediatos. Portanto, podemos assumir como espirituais todos os valores intangíveis dos humanos, como as emoções, a ética, a solidariedade, a confiança, o amor, a esperança, e tantos outros sentimentos que nos permeiam 24 horas por dia.

     Qual a influência que nosso estado de espírito provoca no cotidiano do trabalho? Por certo, age diretamente nas relações interpessoais e pode ser determinante do sucesso profissional. Afinal, ninguém quer trabalhar próximo a uma pessoa eternamente mal humorada ou egocêntrica. O mesmo se reflete na imagem da empresa. Você conhece alguma empresa que lhe passa a imagem de ser desonesta, ou intolerante, ou apática, por exemplo?

     Olhando ao nosso redor, vemos que há um processo de desmaterialização dos bens – o celular é um caso típico -, e um incremento na prestação de serviços. A economia criativa “encarna” uma espiritualização da produção, com sua típica intangibilidade dos bens. De tal modo, o software, o design, as patentes, as marcas, a produção cultural, o entretenimento, dentre outros ativos modernos, são bens desse novo estágio do progresso humano. A esse acervo de conhecimentos, conceitos, linguagens e ideias, o jesuíta Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) deu o nome de “noosfera”. Ou seja, uma camada espiritualizada que se forma ao redor do planeta pela ação da inteligência humana.

     Os avanços para a espiritualização dos negócios já caminham em alta velocidade e precisamos nos adaptar com igual desempenho. Valores como respeito aos empregados, aos consumidores e ao meio ambiente são mais valorizados (e cobrados) a cada dia. Contudo, as mudanças requeridas podem não ser tão grandes assim, como parecem à primeira vista.

     Senão vejamos: A moral do capitalismo se fundamenta no fato de que, nos mercados livres, a única maneira de ser bem-sucedido é fazer algo benfeito para outras pessoas. Criticamente, sabemos que o dono do restaurante nos serve bem para obter lucro. Isto é, movido pelo interesse próprio. Porém, não é muito distante para o dono do restaurante, manter o mesmo comportamento de fazer benfeita a comida, mudar seu objetivo para saciar a fome dos clientes e, consequentemente obter o justo lucro. Parecem coisas já muito próximas.

     Uma escola de gestão para os novos tempos pode vir das ONGs, com o propósito de exercer uma atuação idealista e imbricada no rigoroso cumprimento da missão. Por certo, da gestão das entidades sem fins lucrativos virá o conhecimento de que o lucro se dá por várias vias (talvez uns cem fins lucrativos), e não apenas pelo excedente financeiro.

     Ainda na década de 1950, Peter Drucker, o guru da gestão de negócios, afirmava ser necessária uma rede de mútua confiança para que se realizem transações comerciais. É evidente a relação entre o sentimento de confiança coletiva e o ambiente favorável a negócios. Nesse sentido, desconfiança provoca subdesenvolvimento. Assim, afirmam grandes pensadores sobre desenvolvimento local. Aliás, a teoria do capital social é lastreada pela confiança generalizada como pré-requisito para uma ambiência favorável a progresso.

     Embora seja evidente que países de maioria protestante têm melhor desempenho econômico, podemos crer que tal desenvolvimento mais se deve a fatores educacionais do que a religiosos. Isso porque, Estados orientais não-cristãos, como o Japão e Tigres Asiáticos, criaram ambientes confiáveis para empreendedores, paralelamente a pactos nacionais para melhoria da educação. O sistema industrial japonês Just-in-time é uma prova de maximização econômica a partir de ações inspiradas na confiança mútua.

     O escritor francês André Malraux profetizou: “O século XXI será religioso ou não será.”  Portanto, independente dos negócios, exerça a fé e evolua a sua religiosidade. O mundo agradece. Boa Páscoa!

                                                        .
Publicado no Jornal Cinform em 14/04/2014 - Caderno Emprego


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