Em nome do bom entendimento, vamos definir o significado do termo “espírito”
mais adequado ao texto, de acordo com o Aurélio: “a parte incorpórea,
inteligente ou sensível do ser humano; o pensamento; a mente”. Assim, afastamos
o caráter religioso ou confessional de nossos propósitos imediatos. Portanto,
podemos assumir como espirituais todos os valores intangíveis dos humanos, como
as emoções, a ética, a solidariedade, a confiança, o amor, a esperança, e
tantos outros sentimentos que nos permeiam 24 horas por dia.
Qual a influência que nosso estado de espírito provoca no
cotidiano do trabalho? Por certo, age diretamente nas relações interpessoais e
pode ser determinante do sucesso profissional. Afinal, ninguém quer trabalhar
próximo a uma pessoa eternamente mal humorada ou egocêntrica. O mesmo se
reflete na imagem da empresa. Você conhece alguma empresa que lhe passa a
imagem de ser desonesta, ou intolerante, ou apática, por exemplo?
Olhando ao nosso redor, vemos que há um processo de
desmaterialização dos bens – o celular é um caso típico -, e um incremento na prestação
de serviços. A economia criativa “encarna” uma espiritualização da produção,
com sua típica intangibilidade dos bens. De tal modo, o software, o design, as
patentes, as marcas, a produção cultural, o entretenimento, dentre outros
ativos modernos, são bens desse novo estágio do progresso humano. A esse acervo
de conhecimentos, conceitos, linguagens e ideias, o jesuíta Pierre Teilhard de
Chardin (1881-1955) deu o nome de “noosfera”. Ou seja, uma camada
espiritualizada que se forma ao redor do planeta pela ação da inteligência
humana.
Os avanços para a espiritualização dos negócios já caminham em
alta velocidade e precisamos nos adaptar com igual desempenho. Valores como
respeito aos empregados, aos consumidores e ao meio ambiente são mais
valorizados (e cobrados) a cada dia. Contudo, as mudanças requeridas podem não
ser tão grandes assim, como parecem à primeira vista.
Senão vejamos: A moral do capitalismo se fundamenta no fato de
que, nos mercados livres, a única maneira de ser bem-sucedido é fazer algo
benfeito para outras pessoas. Criticamente, sabemos que o dono do restaurante
nos serve bem para obter lucro. Isto é, movido pelo interesse próprio. Porém,
não é muito distante para o dono do restaurante, manter o mesmo comportamento
de fazer benfeita a comida, mudar seu objetivo para saciar a fome dos clientes
e, consequentemente obter o justo lucro. Parecem coisas já muito próximas.
Uma escola de gestão para os novos tempos pode vir das ONGs, com o
propósito de exercer uma atuação idealista e imbricada no rigoroso cumprimento
da missão. Por certo, da gestão das entidades sem fins lucrativos virá o
conhecimento de que o lucro se dá por várias vias (talvez uns cem fins
lucrativos), e não apenas pelo excedente financeiro.
Ainda na década de 1950, Peter Drucker, o guru da gestão de
negócios, afirmava ser necessária uma rede de mútua confiança para que se
realizem transações comerciais. É evidente a relação entre o sentimento de
confiança coletiva e o ambiente favorável a negócios. Nesse sentido,
desconfiança provoca subdesenvolvimento. Assim, afirmam grandes pensadores
sobre desenvolvimento local. Aliás, a teoria do capital social é lastreada pela
confiança generalizada como pré-requisito para uma ambiência favorável a
progresso.
Embora seja evidente que países de maioria protestante têm melhor
desempenho econômico, podemos crer que tal desenvolvimento mais se deve a fatores
educacionais do que a religiosos. Isso porque, Estados orientais não-cristãos, como
o Japão e Tigres Asiáticos, criaram ambientes confiáveis para empreendedores,
paralelamente a pactos nacionais para melhoria da educação. O sistema
industrial japonês Just-in-time é uma prova de maximização econômica a partir
de ações inspiradas na confiança mútua.
O escritor francês André Malraux profetizou: “O século XXI será
religioso ou não será.” Portanto,
independente dos negócios, exerça a fé e evolua a sua religiosidade. O mundo
agradece. Boa Páscoa!
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Publicado no Jornal Cinform em 14/04/2014 - Caderno Emprego
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