Muitos historiadores creditam ao acaso a descoberta das terras
brasileiras por Pedro (Álvares Cabral). Verdade ou não, essa suspeita já
carrega uma inquietação crônica e única: se houve de fato esse acaso, então o
destino quis, aqui, promover a unificação definitiva de correntes humanas,
afastadas entre si por dezenas de milhares de anos. É o que asseguram diversas escolas
antropológicas sobre o povoamento das Américas. Convenhamos, esse tal de
descobrimento não é tão fácil de entender como parece, até porque, as condições
de saúde dos índios eram superiores às dos recém-chegados, conforme atestou Pedro
(Vaz de Caminha) na sua célebre carta.
Com todo respeito aos povos que aqui habitavam, mas o Brasil só
poderia cumprir a missão de ser palco da maior miscigenação mundial por meio
dessa invasão. Assim, por mais conflitos que tenha havido a partir desse
encontro entre culturas tão distantes, são inegáveis a aceitação mútua e a atração
sexual presentes nessa aventura. Esse fato diferencia nossa história da saga de
outros povos, como os norte-americanos, nos quais só houve aversão, sem a
prática de casamentos entre nativos e invasores.
Será obra do acaso que esse grande encontro humano, concretizado
com a chegada das naus portuguesas ao Brasil, tenha ocorrido numa Semana Santa,
institucionalizada pela mais tradicional Igreja Cristã – coincidentemente
fundada por Pedro (Apóstolo)? Teria a Páscoa de 1500, eternamente simbolizada
pelo Monte Pascoal, realizado seu arquétipo de “passagem”, ao elevar a história
a outro patamar de desenvolvimento material e tecnológico/científico, desde
então? O fato é que a América do Sul salvou a Europa da fome crônica que a
assolava ciclicamente, com a adaptação da batata no Velho Mundo, fazendo
crescer as populações. A partir desse primórdio de globalização, há um
fortalecimento da saúde global, por certo, motivado pela troca de novos anticorpos
entre tantos tipos humanos.
Algumas cenas de um País bem original:
País que, em 1614, por
ordem do Governador Constantino Menelau, cria no açúcar a primeira “moeda”
brasileira. Oh! Dinheirinho doce.
País que recebe catequizadores jesuítas poetas e escritores, que
implantam pioneiramente a Educação a Distância (EaD) nessas paragens.
País que tem sua independência estabelecida pelo próprio
colonizador, sem conflitos armados. Um fato inédito na história mundial, que só
poderia ser feito por outro Pedro (I).
País que transbordou riquezas para Portugal, e este não soube
tornar-se rico e justo. Aliás, o mesmo acontece com a Espanha, que por não
educarem suas populações, não distribuírem renda e por não fomentarem o
empreendedorismo e a confiança coletiva, permaneceram subdesenvolvidos.
País de dimensões continentais que fala uma só língua. Embora,
Macunaíma, nosso herói sem caráter, diga que aqui se fala “brasileiro” e se
escreve “português”, ou seja, é o único país do mundo onde se fala uma língua e
escreve outra.
País que adota a República como vingança à Lei Áurea da Princesa
Isabel, destituindo e expulsando Pedro (II) e a Família Real, em um movimento
patrocinado por ruralistas conservadores, revoltados com a abolição da
escravatura, apesar de extremamente tardia.
País que faz a metamorfose do canibalismo dos Caetés, que vitimou
Pedro (Fernandez Sardinha – o bispo), em um importante movimento artístico
nacional, coroado com a “Semana de 22” e seu subsequente Manifesto Antropofágico,
de legítima raiz brasileira, inspirador da futura Bossa Nova e do Tropicalismo.
País que tem a mão do artista Debret, maior ilustrador da paisagem
brasileira de seu tempo, desenhando o diploma da Sociedade Auxiliadora da
Indústria Nacional, em 1830, com elementos alegóricos exaltando a agricultura,
a indústria, o comércio e a invenção, prenúncio do crescimento da Economia.
País, outrora, exportador de Pau-Brasil e ouro; importador de
facões e espelhos. E, hoje, exportador de soja e minério de ferro; importador
de Ipad e Windows. Ou seja, saímos de seis para meia-dúzia.
Brasil, uma história tão exclusiva que o faz ser maravilhosamente
diverso. Façamos dessa diferença a oportunidade de ser evoluído e universal.
Vamos criar o próprio modelo de desenvolvimento, sem a importação de ideais
caducos e inviáveis, sejam de Esquerda ou de Direita. Aí sim, em se plantando
tudo dá.
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Publicado no Jornal Cinform em 28/04/2014 - Caderno Emprego