segunda-feira, 28 de abril de 2014

Brasil, um país feito a pau e Pedro

Muitos historiadores creditam ao acaso a descoberta das terras brasileiras por Pedro (Álvares Cabral). Verdade ou não, essa suspeita já carrega uma inquietação crônica e única: se houve de fato esse acaso, então o destino quis, aqui, promover a unificação definitiva de correntes humanas, afastadas entre si por dezenas de milhares de anos. É o que asseguram diversas escolas antropológicas sobre o povoamento das Américas. Convenhamos, esse tal de descobrimento não é tão fácil de entender como parece, até porque, as condições de saúde dos índios eram superiores às dos recém-chegados, conforme atestou Pedro (Vaz de Caminha) na sua célebre carta.

     Com todo respeito aos povos que aqui habitavam, mas o Brasil só poderia cumprir a missão de ser palco da maior miscigenação mundial por meio dessa invasão. Assim, por mais conflitos que tenha havido a partir desse encontro entre culturas tão distantes, são inegáveis a aceitação mútua e a atração sexual presentes nessa aventura. Esse fato diferencia nossa história da saga de outros povos, como os norte-americanos, nos quais só houve aversão, sem a prática de casamentos entre nativos e invasores.

     Será obra do acaso que esse grande encontro humano, concretizado com a chegada das naus portuguesas ao Brasil, tenha ocorrido numa Semana Santa, institucionalizada pela mais tradicional Igreja Cristã – coincidentemente fundada por Pedro (Apóstolo)? Teria a Páscoa de 1500, eternamente simbolizada pelo Monte Pascoal, realizado seu arquétipo de “passagem”, ao elevar a história a outro patamar de desenvolvimento material e tecnológico/científico, desde então? O fato é que a América do Sul salvou a Europa da fome crônica que a assolava ciclicamente, com a adaptação da batata no Velho Mundo, fazendo crescer as populações. A partir desse primórdio de globalização, há um fortalecimento da saúde global, por certo, motivado pela troca de novos anticorpos entre tantos tipos humanos.

     Algumas cenas de um País bem original:

     País que, em 1614, por ordem do Governador Constantino Menelau, cria no açúcar a primeira “moeda” brasileira. Oh! Dinheirinho doce.

     País que recebe catequizadores jesuítas poetas e escritores, que implantam pioneiramente a Educação a Distância (EaD) nessas paragens.  

    País que tem sua independência estabelecida pelo próprio colonizador, sem conflitos armados. Um fato inédito na história mundial, que só poderia ser feito por outro Pedro (I).

    País que transbordou riquezas para Portugal, e este não soube tornar-se rico e justo. Aliás, o mesmo acontece com a Espanha, que por não educarem suas populações, não distribuírem renda e por não fomentarem o empreendedorismo e a confiança coletiva, permaneceram subdesenvolvidos.

    País de dimensões continentais que fala uma só língua. Embora, Macunaíma, nosso herói sem caráter, diga que aqui se fala “brasileiro” e se escreve “português”, ou seja, é o único país do mundo onde se fala uma língua e escreve outra.

    País que adota a República como vingança à Lei Áurea da Princesa Isabel, destituindo e expulsando Pedro (II) e a Família Real, em um movimento patrocinado por ruralistas conservadores, revoltados com a abolição da escravatura, apesar de extremamente tardia.

    País que faz a metamorfose do canibalismo dos Caetés, que vitimou Pedro (Fernandez Sardinha – o bispo), em um importante movimento artístico nacional, coroado com a “Semana de 22” e seu subsequente Manifesto Antropofágico, de legítima raiz brasileira, inspirador da futura Bossa Nova e do Tropicalismo.

    País que tem a mão do artista Debret, maior ilustrador da paisagem brasileira de seu tempo, desenhando o diploma da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional, em 1830, com elementos alegóricos exaltando a agricultura, a indústria, o comércio e a invenção, prenúncio do crescimento da Economia.

    País, outrora, exportador de Pau-Brasil e ouro; importador de facões e espelhos. E, hoje, exportador de soja e minério de ferro; importador de Ipad e Windows. Ou seja, saímos de seis para meia-dúzia.

    Brasil, uma história tão exclusiva que o faz ser maravilhosamente diverso. Façamos dessa diferença a oportunidade de ser evoluído e universal. Vamos criar o próprio modelo de desenvolvimento, sem a importação de ideais caducos e inviáveis, sejam de Esquerda ou de Direita. Aí sim, em se plantando tudo dá.


                                                       .
Publicado no Jornal Cinform em 28/04/2014 - Caderno Emprego


segunda-feira, 14 de abril de 2014

A gestão é o espírito da coisa

Em nome do bom entendimento, vamos definir o significado do termo “espírito” mais adequado ao texto, de acordo com o Aurélio: “a parte incorpórea, inteligente ou sensível do ser humano; o pensamento; a mente”. Assim, afastamos o caráter religioso ou confessional de nossos propósitos imediatos. Portanto, podemos assumir como espirituais todos os valores intangíveis dos humanos, como as emoções, a ética, a solidariedade, a confiança, o amor, a esperança, e tantos outros sentimentos que nos permeiam 24 horas por dia.

     Qual a influência que nosso estado de espírito provoca no cotidiano do trabalho? Por certo, age diretamente nas relações interpessoais e pode ser determinante do sucesso profissional. Afinal, ninguém quer trabalhar próximo a uma pessoa eternamente mal humorada ou egocêntrica. O mesmo se reflete na imagem da empresa. Você conhece alguma empresa que lhe passa a imagem de ser desonesta, ou intolerante, ou apática, por exemplo?

     Olhando ao nosso redor, vemos que há um processo de desmaterialização dos bens – o celular é um caso típico -, e um incremento na prestação de serviços. A economia criativa “encarna” uma espiritualização da produção, com sua típica intangibilidade dos bens. De tal modo, o software, o design, as patentes, as marcas, a produção cultural, o entretenimento, dentre outros ativos modernos, são bens desse novo estágio do progresso humano. A esse acervo de conhecimentos, conceitos, linguagens e ideias, o jesuíta Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) deu o nome de “noosfera”. Ou seja, uma camada espiritualizada que se forma ao redor do planeta pela ação da inteligência humana.

     Os avanços para a espiritualização dos negócios já caminham em alta velocidade e precisamos nos adaptar com igual desempenho. Valores como respeito aos empregados, aos consumidores e ao meio ambiente são mais valorizados (e cobrados) a cada dia. Contudo, as mudanças requeridas podem não ser tão grandes assim, como parecem à primeira vista.

     Senão vejamos: A moral do capitalismo se fundamenta no fato de que, nos mercados livres, a única maneira de ser bem-sucedido é fazer algo benfeito para outras pessoas. Criticamente, sabemos que o dono do restaurante nos serve bem para obter lucro. Isto é, movido pelo interesse próprio. Porém, não é muito distante para o dono do restaurante, manter o mesmo comportamento de fazer benfeita a comida, mudar seu objetivo para saciar a fome dos clientes e, consequentemente obter o justo lucro. Parecem coisas já muito próximas.

     Uma escola de gestão para os novos tempos pode vir das ONGs, com o propósito de exercer uma atuação idealista e imbricada no rigoroso cumprimento da missão. Por certo, da gestão das entidades sem fins lucrativos virá o conhecimento de que o lucro se dá por várias vias (talvez uns cem fins lucrativos), e não apenas pelo excedente financeiro.

     Ainda na década de 1950, Peter Drucker, o guru da gestão de negócios, afirmava ser necessária uma rede de mútua confiança para que se realizem transações comerciais. É evidente a relação entre o sentimento de confiança coletiva e o ambiente favorável a negócios. Nesse sentido, desconfiança provoca subdesenvolvimento. Assim, afirmam grandes pensadores sobre desenvolvimento local. Aliás, a teoria do capital social é lastreada pela confiança generalizada como pré-requisito para uma ambiência favorável a progresso.

     Embora seja evidente que países de maioria protestante têm melhor desempenho econômico, podemos crer que tal desenvolvimento mais se deve a fatores educacionais do que a religiosos. Isso porque, Estados orientais não-cristãos, como o Japão e Tigres Asiáticos, criaram ambientes confiáveis para empreendedores, paralelamente a pactos nacionais para melhoria da educação. O sistema industrial japonês Just-in-time é uma prova de maximização econômica a partir de ações inspiradas na confiança mútua.

     O escritor francês André Malraux profetizou: “O século XXI será religioso ou não será.”  Portanto, independente dos negócios, exerça a fé e evolua a sua religiosidade. O mundo agradece. Boa Páscoa!

                                                        .
Publicado no Jornal Cinform em 14/04/2014 - Caderno Emprego