A Assembleia Geral das Nações Unidas decidiu que em 2014, será
celebrado o Ano Internacional da Agricultura Familiar. É, justamente, um
reconhecimento à importância da agricultura familiar na segurança alimentar e
no combate a pobreza.
Por certo, nas milhões de unidades agrícolas familiares brasileiras
residem pessoas especiais, que conseguem extrair da pequena área de terra o
sustento de suas famílias. Há alguns anos, era comum existir agricultores que
milagrosamente criaram numerosos filhos e filhas a partir de alguns poucos
hectares de terra, inclusive formando-os em escola superior. Hoje, essa
situação parece impossível, porque viver da produção artesanal agrícola, com
raras exceções, é inviável.
Uma das razões que inviabilizaram a sustentabilidade do pequeno
produtor é a dependência de insumos para a manutenção de sua produção.
Compra-se de tudo para um sítio: sementes, defensivos, adubos, embalagens,
equipamentos de irrigação, etc. Essa dependência provoca evasão demasiada de
recursos para bancos e multinacionais químicas e biotecnológicas. Ou seja, o
produtor agrícola é um escravo do sistema econômico internacional, trabalhando
forçadamente para empresas que lhes impõem um modelo de manejo inadequado para
terras tropicais.
No Brasil atual, só o agronegócio de grande escala é viável. Todos
os demais agentes da agricultura estão travando uma luta perversa pela
sobrevivência, especialmente o médio produtor, por ser desassistido de
políticas públicas, como ainda o são, de alguma forma, os pequenos.
Estranhamente, chamamos de agronegócio a atividade de produção em
larga escala de commodities, a exemplo da soja e do milho. Porém, são
essencialmente atividades de serviços que nada tem a ver com a atividade rural,
uma vez que as sementes são transgênicas, a fertilização é química, a
manipulação é automatizada, o consumidor é mundialmente indeterminado, os
preços são em dólar, o planejamento do negócio se dá em grandes centros
econômicos e de pesquisas, e o gerenciamento é informatizado. Assim, o território
utilizado é apenas um substrato para a geração de alimentos “plásticos”
controlados por satélites, nada convergindo para as populações locais e a
cultura rural.
Os biomas florestais brasileiros são os mais ricos do planeta em
extensão e biodiversidade. Assim, lutar contra as forças da natureza em nossas
terras é mais difícil que em outras paragens. Com efeito, toda atividade
agrícola é uma intervenção humana contrária às ações da natureza, uma vez que
nunca encontraremos uma horta criada espontaneamente.
Porém, é possível se valer das forças locais de um sítio para
minimizar o impacto da atividade rural. É o que assegura a Agricultura
Biodinâmica, criada por Rudolf Steiner no início do século XX e hoje, praticada
em mais de 50 países, inclusive o Brasil. Os produtos certificados biodinâmicos
recebem o selo de identificação internacional DEMETER.
A Agricultura Biodinâmica tem como consequência natural a
renovação do manejo agrícola, o saneamento do meio ambiente e a produção de
alimentos condignos ao ser humano. Quer, ainda, devolver à agricultura sua
força original criadora e fomentadora cultural e social, perdida no caminho da
industrialização, da monocultura e da criação em massa de animais fora do seu
ambiente natural. Dessa forma, o agricultor biodinâmico caminha para vencer a
concepção materialista imposta à natureza e assim, achar uma relação espiritual
– ética, com o solo, plantas, animais e humanos.
Pode parecer distante esse discurso, mas não é. O maior
certificador de produtos orgânicos do Brasil é o IBD – Instituto Biodinâmico,
com sede em Botucatu (SP) e, existem diversas publicações e cursos sobre o
assunto. Interessante destacar que os custos para a produção agrícola por meio
dessa eficiente tecnologia são irrisórios, pois, esta, visa transformar o sítio
em uma individualidade agrícola autossuficiente, libertando o produtor do
círculo vicioso convencional.
A Agricultura Biodinâmica pode ser para o agricultor familiar a
Árvore da Vida.
Publicado no Jornal Cinform em 30/12/2013 - Caderno Emprego