Durante quarenta anos, as Farc – Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia -, um grupo insurgente marxista-leninista colombiano, vinha se
dedicando ao terrorismo, tráfico de drogas e armas, além de sequestros. Pontes
eram explodidas, aviões eram derrubados, cidades eram aterrorizadas.
Entre 1999 e 2007, as Farc controlavam 40% do País. Os sequestros
haviam se tornado tão frequentes, que no início de 2008, setecentas pessoas
eram mantidas em cativeiro, incluindo a candidata presidencial, Íngrid
Betancourt, sequestrada durante a campanha de 2002.
Todos, sem exceção, tinham receio de se opor às Farc, pois os que
assim fizeram, desapareceram por sequestro ou morte. O que se via era uma
grande insatisfação nas pessoas, de forma contida ou dissimulada pelo
medo.
Mas, subitamente, e aparentemente do nada, em 5 de fevereiro de
2008, em cidades do mundo inteiro, milhões de pessoas acorreram às ruas,
protestando contra os rebeldes e exigindo a libertação dos reféns.
Tal mobilização atingiu 200 cidades em 40 países, envolvendo 12
milhões de pessoas nas ruas, sendo 1,5 milhão só em Bogotá. Os protestos
geraram tamanha repercussão mundial que desmilitarizou as Farc, ao ver quantas
pessoas no mundo eram contra ela.
Esse fenômeno de mobilização social nasceu do inconformismo de uma
pessoa, Oscar Morales, criador do perfil “Um Milhão de Vozes” no Facebook, usado
para divulgar e convidar seguidores para a seguinte causa, em letras maiúsculas
mesmo: “CHEGA DE SEQUESTROS, CHEGA DE MENTIRAS, CHEGA DE MORTES, CHEGA DE
FARC”.
Apenas um mês depois de criado o perfil no facebook, toda essa
mobilização se realizou. Tudo que Morales precisou para destruir as Farc foi de
um computador, uma ideia na cabeça, a internet e a indignação. Esse é o novo
mundo, onde os protagonistas são agentes “vitaminados” da microfísica do poder.
Com a chamada “Primavera Árabe”, não foi diferente. As redes
sociais foram os principais veículos de mobilização popular e de divulgação da
realidade dos países controlados por mãos de ferros de ditadores. Durante os
protestos no Cairo (Egito) que derrubaram o presidente Hosni Mubarak, um
ativista sintetizou isso muito bem numa mensagem no twitter: “Usamos o Facebook
para marcar os protestos, o twitter para coordenar e o youtube para informar ao
mundo”.
É claro que esses movimentos cresceram por causa da indignação
popular. Ninguém aderiu por modismo ou porque recebeu um SMS convidando para
uma manifestação pública. Em paralelo, não se pode negar que o domínio das tecnologias
da informação e comunicação - TICs - exige uma infraestrutura considerável de
antenas e satélites, acrescido de capacitação técnica. E como se implantou isso
em países fechados?
Algumas tecnologias foram utilizadas longe de seus propósitos
originais. O Bluetooth foi uma tecnologia inventada para que as pessoas
pudessem conversar enquanto dirigiam – nenhum dos seus criadores esperava que
essa rede ponto a ponto seria usada para contornar um regime opressivo. Apesar
de o Departamento de Estado norte-americano investir muito no que a secretária
de Estado Clinton denominou de “política do século XXI”, que propôs formas
inovadoras de diplomacia.
Nesse contexto, quase todos os grandes líderes do mundo das TICs
visitaram o Iraque para apresentar seu ponto de vista e propor soluções que
mudassem a realidade do País, recém-invadido pelos americanos.
Esses fatos foram extraídos do livro Abundância – O Futuro é
Melhor do que Você Imagina -, de Diamandis e Kotler. Infelizmente, o futuro
pode não ser tão bom como eles imaginam, pois nem tudo são flores na vida de feissibuq,
já que a mesma utilização emancipadora proporcionada pelas TICs também serve
para grupos radicais se articularem, prometendo ou promovendo atentados
terroristas.
Cena que assistimos hoje, com a retirada do corpo diplomático
americano e inglês do Oriente Médio, motivada por interceptações de diálogos de
extremistas na internet do planeta azul.
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Publicado
no Jornal Cinform em 19/08/2013 - Caderno Emprego
Publicado na revista TI&N em 08/2013 – nº 014