A
riqueza cultural nordestina manteve-se encoberta por muitos anos. Seus grandes valores
alcançavam minimamente outros redutos e, menos ainda, uma escala nacional.
Inúmeros artistas da região ficaram famosos ao trilhar a pista asfaltada por
Luiz Gonzaga, o Lua, a quem coube o mérito de cantar sua aldeia nos melhores
palcos deste País, para fazê-la universal e admirada. Hoje, no centenário do
seu nascimento, graças ao seu legado, se tornou fácil ver que “o sertão está em
toda parte”, fato que só visionários na década de 1950 poderiam sentenciar,
como o fez Guimarães Rosa.
Creio
não haver brasileiro que desconheça o verso “Ela só quer, só pensa em namorar”,
bem como, quem ignore o amor do nordestino pelo seu torrão natal, mesmo que ciclicamente
calcinado pela seca. Ocasião em que lhe resta apelar à natureza ígnea da fé em
sua máxima intensidade, igualando homem e terra, no mesmo fervor, ao pedir para
serem poupados, uma vez que “inté mesmo a asa branca bateu asas do sertão”.
Dessa
saga semiárida vem a resiliência admirável “das muié séria e dos home trabaiador”,
fonte do verso contundente, da arte objetiva e sem arrodeio. Um conjunto
artístico coerente com a realidade da caatinga, na qual inexistem seres impunes
à dor do recolhimento compulsório da vida, na prolongada aridez ou da explosiva
reencarnação verde, a festejar o primeiro chuvisco.
Luiz
Gonzaga do Nascimento nasceu numa sexta-feira, 13 de dezembro de 1912, já com o
DNA de sanfoneiro, herdado do afamado pai Mestre Januário dos oito baixos, na
cidade de Exu, sertão pernambucano. Lugar, onde aprendeu a apreciar a arte
ouvindo cantadores e artistas populares nas feiras. Ao sentar praça no serviço
militar, é transferido para o sudeste do Brasil com o advento da Revolução de
30. Após o afastamento do Exército, inicia seu trabalho como músico
profissional no Rio de Janeiro, onde atuou como sanfoneiro nas gravações de
cantores da época, fato que chama a atenção dos produtores para seu talento
como instrumentista. A partir disso, inicia a gravação de seus primeiros discos
de 78 rpm e, em 1945, conhece Humberto Teixeira, advogado e poeta, com quem faz
seus primeiros grandes sucessos. No ano seguinte, conhece Zédantas, novo
parceiro letrista, tornando-se definitivamente “O Rei do Baião”. Em 1989, morre
o premiadíssimo Gonzagão. Na verdade, Gonzagão continua vivo e “se a gente
lembra só por lembrar”, essas particularidades passageiras da sua biografia, é
porque ele trouxe dentro de si não só uma forte individualidade, mas a
nordestinidade inteira, com todas as suas possibilidades. Artista que rodou o
mundo sem nunca deixar o nordeste brasileiro, posto que este também o é,
simbioticamente.
Paulo do Eirado Dias Filho
Publicado no Catálogo Bom Dia Gonzagão - Funarte 2012
Paulo do Eirado Dias Filho
Publicado no Catálogo Bom Dia Gonzagão - Funarte 2012
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