Os arranjos produtivos locais – APLs se caracterizam como pequenas ilhas de prosperidade em nosso continental mapa brasileiro. Existem estudos para clarear o entendimento do porquê de algumas regiões demonstrarem aptidão para o progresso social e econômico enquanto outras, muito similares, apresentam inapetência crônica para a geração de riquezas. Concluem tais estudos para alguns fatos comuns nos APLs: em primeiro lugar, sempre existe forte interação entre as pessoas e a imprescindível confiança entre elas. Depois, os integrantes possuem identidade comum, visão compartilhada e sentem-se possuidores de uma mesma orientação vocacional. Por fim, participam da governança local, seja o poder público, os empreendedores, os agentes financeiros, ONGs, agentes de desenvolvimento, universidades e a comunidade.
Nesse
ambiente de alta interação entre os diversos integrantes do APL está uma de
suas maiores riquezas: a construção coletiva do bem comum. Só é possível haver
desenvolvimento a partir dessa combinação protagonizada pelos indivíduos do
próprio local. É um movimento endógeno que faz de um local economicamente
deprimido um novo ambiente de riqueza pujante e mais justo socialmente.
No Brasil,
apenas o APL aeroespacial de São José dos Campos, em São Paulo, foi induzido a
partir de interesse governamental, portanto exógeno, e deu certo. Todos os
demais, bem sucedidos, são frutos de ações de dentro para fora, no quais a
comunidade alavancou com a força de trabalho o apoio de outras instituições que
se fizeram presentes. São exemplos de APLs brasileiros: a indústria de
confecções de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro; o turismo em Porto Seguro, na
Bahia; a produção de vinhos do Vale dos Vinhedos, Rio Grande do Sul, a indústria
moveleira em Paragominas, no Pará; e a indústria têxtil e de confecções de
Tobias Barreto em nosso Sergipe.
Paralelamente,
organizações empresariais devem inspirar-se no modelo de funcionamento dos APLs
para instituir uma governança mais democrática e interativa com seus clientes,
bancos, conselhos deliberativos, fornecedores, colaboradores, prestadores de
serviços diretos e indiretos, comunidade vizinha e outros. Afinal, não podemos
perder de vista que estamos cada vez mais imersos numa sociedade organizada em
redes de interesses por meio da internet e suas ferramentas de construções
coletivas, a exemplo do YouTube, Wikipédia, Twitter, Orkut, MSN, Linux,
etc.
Alguns
renomados autores de gestão de negócios recomendam a abertura dos processos
industriais mais íntimos à colaboração de seus clientes numa parceria que
denominam cocriação. Assim, desenvolver novos produtos com a participação
direta de usuários tem sido o caminho de inovações bem-sucedidas. A defesa pela
cocriação encontra respaldo em importantes ícones da indústria mundial, como
Dell, Nike, Apple, Starbucks e IBM.
A idéia da
cocriação não é exatamente nova. Alguns líderes mundiais da produção de
software já possuíam seus ‘grupos de usuários’ que interagiam diretamente com
os projetistas de sistemas apresentando críticas e sugestões de melhorias para
os produtos. Porém, nova é a dimensão que a cocriação ganhou no mundo dos
negócios.
Pesquisas
americanas apontam que para realizar uma compra pela internet o cliente dedica
apenas 1% do seu tempo de navegação, os demais 99% são usados nas pesquisas e
trocas de opiniões com outros compradores. Assim, com um cliente que tão bem
estuda o que pretende comprar, é possível imaginar seu potencial de colaboração
para o aperfeiçoamento de um produto ou serviço se lhe pedirem uma ‘mãozinha’.
Em 2008, o
presidente da Dell Computadores, Michael Dell, declarou: “Tenho certeza de que
há um monte de coisas que não consigo nem imaginar, mas que nossos clientes
conseguem. Uma empresa do porte da nossa não pode girar em torno de idéias
produzidas por um punhadinho de pessoas; ela precisa girar em torno de milhões
de pessoas, e saber utilizar o poder de suas idéias.”
Prudentemente,
podemos observar que o mesmo poder que os clientes têm de colaborar positivamente,
também pode ser usado para destruir uma marca ou produto. A reputação deve ser
acompanhada nas redes sociais pelas empresas, mas, sempre com o cuidado de não
contrapor opiniões desagradáveis através de manifestação de poder ou de
repressão. As redes sociais têm ética própria e são intolerantes, por sua
natureza, a informações pasteurizadas ou ‘chapa branca’. Recomendam os
especialistas, que a participação de empresas em comunidades se faça pelo
caminho da legitimidade social, cumprindo o que promete e sem o uso do jargão
usual do marketing.
Esses novos
tempos exigirão um reposicionamento do capital tradicional para novas relações
do poder e da comunicação social. Também surgem novos ecossistemas sociais,
frutos da internet que subitamente suprimiu a geografia e deu a todos os seus
navegadores o mesmo tamanho.
Publicado no jornal Cinform
31/01/2011 – Caderno Emprego
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