Uma grande e bem vinda novidade seria encontrar a fórmula definitiva de conciliar desenvolvimento econômico com respeito ambiental e social. Muitos discursam nesta direção, embora a veemente retórica não corresponda ao diminuto passo na direção da sustentabilidade.
A palavra
‘sustentabilidade’ é um dos verbetes mais frequentes nos principais livros
técnicos da literatura de negócios. Equipara-se a ‘negociação’, ‘marketing’,
‘mercado de capitais’ e outras palavras-chave do vocabulário da administração
de empresas.
Executivos
de todo o mundo se debruçam sobre como transformar sua organização tradicional
em uma empresa sustentável. Esse é o desafio de maior evidência nas agendas
econômicas, sociais e governamentais desde o final do século XX. O difícil é
acreditar que com a ética prevalente nos nossos dias possamos achar soluções
para esse desafio, ainda que atuemos com
ética. Por quê?
Em
princípio, nenhuma matéria-prima tem preço em si. Toda ela se origina em Deus,
sendo, portanto, dada pela natureza. Assim, ninguém paga R$ 0,10 sequer por uma
pérola magnífica que se encontra nas profundezas do oceano, caso se tenha que
ir buscá-la. Da mesma forma, não compramos terrenos na lua nem a R$ 0,01 por
hectare.
O preço
crescente dos produtos é fixado pelos custos de exploração, beneficiamento,
produção, logística, comercial, transporte, tecnologia, processamento,
marketing, recursos humanos, desperdícios, ociosidade, sazonalidade e várias
leis de mercado. São esses processos da cadeia de produção que agregam valor às
gratuitas matérias-primas.
Talvez, pela
ausência de um preço original, mantemos uma relação desrespeitosa com a
natureza na exploração dos seus recursos. Com base neste pressuposto, podemos afirmar que maior
será o proveito e controle, quanto maior for a degradação imposta ao nosso
objeto explorado em qualquer reino da natureza, características de uma relação
direta entre o lucro e a degradação.
Quando
trabalhamos com o reino mineral, buscamos selecionar suas substâncias mais
nobres, isto é, aquelas mais organizadas em suas estruturas cristalinas, a
exemplo de cristais e metais, verdadeiros representantes do reino. Nessa
atividade mineradora, após processar a separação das partes cobiçadas, ficam no
local apenas substâncias amorfas e descristalizadas, degradadas representantes
dos minerais.
Nas
intervenções que praticamos no reino vegetal somos igualmente agressivos.
Eliminamos as árvores, maiores representantes deste reino e únicos seres capazes de unir as substâncias
telúricas da rocha-mãe através de suas profundas raízes, às mais sutis substâncias
cósmicas da atmosfera, por meio de sua copa aérea. Infelizmente, substituímos
as árvores por gramíneas e cereais, obviamente, de pequenos portes, incapazes
de cumprir esse mesmo papel.
Além disso,
nos utilizamos abusivamente de sais químicos na adubação do solo numa clara
tentativa de mineralizar e, por consequência, aproximar a planta a um reino
inferior ao vegetal. Com os animais não é diferente. Costumamos submetê-los a
confinamentos cruéis retirando toda sua mobilidade. Triste exemplo é o tratamento
dado às galinhas de postura criadas em gaiolas minúsculas, quase imóveis,
semelhantes a plantas ornamentais cultivadas em vasos. Deste modo, eliminar a
mobilidade de um animal é atentar contra a sua própria natureza mais elementar.
Isso porque quando um animal está vivo e desprovido de movimento, dizemos que
ele possui vida vegetativa. Eis uma bela metáfora para ilustrar a degradação
imposta a este reino, tratando-o como se vegetal fosse.
Por fim, o homem. Aqui, o especificamos como um reino à parte devido a sua particular natureza anímico-espiritual que o distancia dos demais animais. A maior distinção entre humanos e animais está na existência da individualidade presente, desculpem a redundância, unicamente
Neste
sentido, quando tratamos homens e mulheres em nossos sistemas de produção, a
exemplo do escolar, costumamos impor a todos os indivíduos de uma mesma classe,
um comportamento de manada, no qual todos devem responder, vestir, consumir,
pensar, agir e sentir igualmente. Está nos princípios da escola brasileira o
lema “ensinar a todos como se fossem um só”.
Assim, nessa
coletivização, atentamos contra o desenvolvimento do livre-arbítrio ao
inibirmos a manifestação e a conseqüente educação da vontade e dos sentimentos
humanos. Concluímos, reafirmando que por mais presente que se faça no discurso,
a sustentabilidade só será uma realidade quando revermos a nossa própria ética,
como visto, incompatível com uma digna convivência humana na Terra.
Publicado no jornal Cinform
06/06/2011 – Caderno Emprego
Publicado na revista
Tecnologia da Informação & Negócios nº 05/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário