Nos anos 60, a série televisiva ‘Os Jetsons’ fazia grande sucesso por especular sobre o futuro. As cenas eram simplesmente delirantes mesmo quando analisamos hoje, após 50 anos, o que se concretizou e o que está por vir, ainda desconhecido aos nossos olhos. Aparentemente, existem influências desse desenho animado visionário na arquitetura de alguns prédios e torres construídas no mundo, como o aeroporto de Los Angeles e o obelisco de Seattle, ambos nos Estados Unidos.
Também são
designs dignos dos Jetsons o berço DoDo, e até – pasme! - a torneira
Smartfaucet com tela de LCD para que se possa ler os e-mails enquanto, muito
tradicionalmente, escova os dentes.
Porém, se no design e na arquitetura existem produtos em pleno funcionamento,
o mesmo não se pode dizer dos veículos urbanos e dos robôs, auxiliares muito
competentes nas tarefas domésticas, a exemplo da governanta eletrônica Rosie.
Chegamos ao
terceiro milênio com índices acanhados de automação e robótica. A indústria,
carro-chefe da utilização de robôs nas linhas de montagens, não se mostra com o
apetite imaginado para o assunto por quê? Quando analisamos os robôs
industriais, verificamos que são compostos por três eixos tecnológicos:
mecânica, eletrônica e software.
O primeiro
eixo, ou seja, a mecânica é uma ciência bastante dominada e já mostra sinais de
esgotamento tecnológico em alguns de seus pilares, a exemplo de elementos de
máquinas e conversões de movimentos, e alta vitalidade na pesquisa de novos
materiais e lubrificação. Mas, certamente, por ser o mais antigo dos três eixos
tecnológicos, é também o que mais dominamos.
O eixo da
eletrônica ainda apresenta inovações diárias, embora já atenda a contento
nossas necessidades de automação por meio dos mais diversos tipos de sensores e
escâneres disponíveis. Por último, o eixo tecnológico do software, o mais novo
dos três, se apresenta como um desafio quase intransponível para o nível
científico atual.
Esse
bloqueio se deve a dificuldade de explicitar na forma de códigos, movimentos
combinados que fazemos com muita naturalidade em nossos corpos, mas para se
comandar em uma máquina torna-se extremamente difícil. Essa dificuldade faz com
que os robôs industriais usuais sejam limitados a três articulações, também
chamadas graus de liberdade: pinça, punho e cotovelo. Assim, por analogia,
corresponde a um braço humano dotado de polegar mais um dedo, munheca e
cotovelo. E só. Porém, suficiente para exigir em sua animação trabalho técnico
especializado de programação.
Matematicamente,
os três graus de liberdade do robô industrial oferecem as combinações de uma
matriz de três linhas e três colunas. Em comparação a mão humana, vemos que
esta possui 27 graus de liberdade, o que a torna inacessível para a lógica de
programação disponível. Mesmo assim, esse limitado dispositivo industrial é
suficientemente hábil para soldar, apertar parafusos, preencher embalagens e
engradados com mais rapidez e precisão que nós homens poderíamos fazer, mas
tudo tem um custo, pois, para realizar esta proeza, o robô exige um ambiente
totalmente controlado, livre de adversidades e surpresas, o que provoca o
engessamento de toda a linha industrial.
Diante
desses fatos, constatamos que o robô idealizado para a indústria representa a
culminância do modelo fordista, focado na eficiência e na massificação dos
produtos, inadequado, pois, para a nova indústria que busca flexibilizar a
capacidade produtiva ou até desmaterializar seus produtos. Nesse contexto, o
robô parece ser uma invenção tardia. Porém, muita novidade está por vir na
automação residencial, comercial e industrial. A maior revolução anunciada pela
robótica será a supressão do limitante software, a ser substituído pelo pensar
humano por meio da leitura direta de ondas cerebrais.
Pesquisas
nesse campo se encontram em estágios bem evoluídos, particularmente, as
realizadas pelo médico brasileiro, Miguel Nicolelis, primeiro conterrâneo
candidato ao prêmio Nobel de medicina por seus estudos de neurociências na
interface homem-máquina. Promete, inclusive, o Dr. Nicolelis desenvolver um
exoesqueleto que vestido por uma pessoa com severa deficiência motora dará
possibilidade, a mesma, para realização do chute inaugural na abertura da Copa
de 2014, no Brasil, a partir de seu comando mental.
Vamos
reinventar o robô. Vamos livrá-lo da imagem humanóide, romântica e inútil. Eles
podem executar atividades às quais não se deve expor um ser humano devido ao
risco e às condições adversas à vida. Os protótipos atuais não fazem sucesso
nem em novelas das sete. Contudo, aplicada na educação, a robótica faz grande
sucesso entre jovens, ávidos por contextualizar a aprendizagem e exercitar nos
seus projetos o talento e a criatividade que só eles tem. E tudo isso num mundo
real que nem é o dos Jetsons nem o dos Flintstones.
Publicado no jornal Cinform 20/06/2011
– Caderno Emprego
Publicado na revista
Tecnologia da Informação & Negócios nº 01/2011