O ensino médio brasileiro passa por uma grave crise existencial. Não apenas porque perdeu a identidade do seu caráter formativo, mas também por apresentar-se utilitariamente como trampolim para o curso superior, ou, pior ainda, como mero reforço dos conhecimentos do ensino fundamental.
Quando
olhamos diretamente para o ensino médio não vemos o seu rosto. Sua arquitetura
atual revela-se um ambiente de passagem, semelhante aos detestáveis corredores
presentes em minúsculos apartamentos, a roubar-lhes caros espaços úteis. Desta
forma, muitos jovens evadem das escolas em busca de encontrar algo que lhes
ofereça mais sentido à vida e aos anseios e desafios, particularmente, próprios
da adolescência dos mais carentes.
“A educação
secundária parece ser o nível mais difícil de se transformar no mundo inteiro.
Preparada para receber jovens dos setores médios e altos, começou, já há
algumas décadas, a receber jovens de todos os setores sociais. Por outro lado,
sua proposta cultural e pedagógica segue em importante medida ancorada no
século XIX. O diagnóstico é claro. As alternativas estão em construção”,
reporta a autora Cecília Braslavsky – UNESCO.
De modo
geral, todos entendem a juventude como algo passageiro ou, uma fase a ser
superada. Dessa visão de transitoriedade resulta uma grande escassez de
políticas públicas para juventudes no Brasil. Consequentemente, mais um ponto a
dificultar a vida desse relevante período escolar.
Diante das
constatações universais acima apresentadas surgem ações interessantes de
resgate para o ensino médio. Desde novos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCNs - já apresentados pelo Conselho Federal de Educação, até, uma nova
proposta de ensino médio articulada por renomados educadores brasileiros em
parceria com a UNESCO.
Essa nova
proposta, temporariamente denominada Protótipos Curriculares de Ensino Médio e
Ensino Médio Integrado, traz em seu escopo a clara intenção de revolucionar a
escola ao aproximá-la das perguntas básicas que movem nossos jovens, e da formação para o trabalho,
enquanto espaço educativo fundamental.
Se
reconhecer a falência do atual ensino médio é uma unanimidade entre educadores,
então, este é, por si, motivo para que todos dêem as mãos visando que o novo
projeto seja bem sucedido e se torne uma construção sólida de toda comunidade
escolar. A célula primordial do novo modelo é o Projeto Político Pedagógico de
cada unidade escolar, que deve ser legítimo e participativo, elaborado por
pais, professores, gestores, alunos, funcionários e demais membros da
comunidade escolar.
É
lugar-comum dizer que no papel cabe tudo. E, novamente o projeto está no papel,
de onde precisamos retirá-lo para que se realize no mundo físico e social. O
que talvez seja um sonho, e assim, ocorrem duas vertentes possíveis: a primeira, é que só serão integradas ao novo
modelo as escolas que assim o desejem. A segunda, é que a adesão implicará na construção de um novo empreendimento
e, como tal, revestido de inovações, desafios a serem superados e avaliados.
Já que
falamos em sonho, surpreendentemente, agora o assunto fica mais fácil porque
existe uma ciência que fundamenta a arte de construir sonhos. É o
empreendedorismo, ciência de natureza comportamental, capaz de habilitar
pessoas à realização de seus propósitos de vida, ou seja, seus sonhos. Nesse
sentido, desfazendo a imagem de comércio, uma das biografias que reúne maior
número de característica de atitudes empreendedoras é a da saudosa Irmã Dulce,
o anjo bom da Bahia, construtora do maior hospital público do país, ainda em
pleno funcionamento.
Conceitualmente,
o empreendedorismo se constitui em um conjunto de atitudes e de hábitos que
podem ser adquiridos, praticados e reforçados nas pessoas, ao submetê-las a um
programa de capacitação adequado de forma a torná-las capazes de gerir e
abraçar oportunidades, melhorar processos e inventar negócios de qualquer
natureza.
Em Sergipe,
120 docentes de ensino médio da rede pública estadual freqüentaram entre 2005 e
2006 a pós-graduação lato sensu, MBA – Empreendedorismo para Docentes, que os
habilitou a ministrar tal disciplina. Certamente, esses diferenciados
professores podem ser ótimos avaliadores do empreendedorismo na educação e dos
seus efeitos nos milhares de alunos. Paralelamente, verão que no novo projeto
tudo remonta ao empreendedorismo, só não utilizando explicitamente este
termo.
Professores,
gestores, alunos e educadores em geral, empreendam, pois, a escola dos sonhos é
a escola onde os sonhos são incentivados e se ensina como construí-los, mesmo
na escassez. Ou o futuro não está em nossas mãos.
Publicado no jornal Cinform
09/05/2011 – Caderno Emprego
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