O momento que vivemos mostra-nos, a todo instante, a importância da educação ambiental como tema obrigatório e, preferencialmente, transversal a toda atividade escolar ou laboral. A ética da produção que aceitamos como correta se mostra caduca e carece de profunda revisão, sob pena de esgotarmos nossa maior riqueza: a natureza.
Para melhor
compreensão transcrevo a seguir um texto extraído do livro Capitalismo Natural,
de Paul Hawken e outros, que descreve a complexidade e a energia consumida para
a produção de uma simples lata de Coca-Cola:
“Um
interessante estudo de caso mostra a complexidade do metabolismo industrial no
livro Lean Thinking (O Pensamento Estéril), de James Womack e Daniel Jones, que
acompanha a origem e a trajetória de uma lata de Coca-Cola inglesa. A
fabricação da lata resulta mais custosa e complicada que a da própria bebida. A
bauxita é extraída na Austrália e transportada para um separador, que, em meia
hora, purifica uma tonelada de minério, reduzindo-a a meia tonelada de óxido de
alumínio. Quando acumulado em quantidade suficiente, o estoque é embarcado em
um gigantesco cargueiro que o leva à Suécia ou à Noruega, onde as usinas
hidroelétricas fornecem energia barata. Depois de um mês de travessia de dois
oceanos, ele passa dois meses na fundição. Ali, um processo de duas horas
transforma cada meia tonelada de óxido de alumínio em um quarto de tonelada de
metal alumínio em lingotes de dez metros de comprimento. Estes são tratados
durante quinze dias antes de embarcar para as laminadoras da Suécia ou da
Alemanha. Lá, cada lingote é aquecido a quinhentos graus Celsius e prensado até
atingir a espessura de 0,30 centímetros. As folhas resultantes são embaladas em
rolos de dez toneladas e transportadas a um armazém e, depois, a uma laminadora
a frio do mesmo país ou de outro, onde voltam a ser prensados até ficar dez
vezes mais finas e prontas para a fabricação. O alumínio é, então, enviado à
Inglaterra, onde se moldam as folhas em forma de latas que, a seguir, são
lavadas, secadas, esmaltadas e pintadas (ainda não tem tampa), recebem uma
camada protetora, que evita que o refrigerante as corroa, e passam pela
inspeção. Colocadas em paletes, são erguidas pelas empilhadeiras e ficam
armazenadas nas prateleiras. No momento do uso, são transportadas até a
engarrafadora, onde as lavam e limpam uma vez mais e as enchem de água
misturada com xarope aromatizado, fósforo, cafeína e gás de óxido de carbono. O
açúcar vem das plantações de beterraba da França depois de passar pelo
transporte, a usina, a refinação e o embarque. O fósforo, originário de Idaho,
nos Estados Unidos, é extraído em minas profundas – processo esse que também
desenterra o cádmio e o tório radiativo. As empresas de mineração consomem
permanentemente a mesma quantidade de eletricidade que uma cidade de 100 mil
habitantes a fim de dar qualidade alimentar ao fosfato. A cafeína vai da
indústria química para o fabricante do xarope na Inglaterra. As latas cheias,
depois de vedadas com uma tampa pop-top
de alumínio a um ritmo de 1.500 por minuto, são embaladas em caixas de papelão
com as mesmas cores e esquemas promocionais. Estas foram feitas com polpa de
madeira oriunda de qualquer lugar, da Suécia à Sibéria e às antigas florestas
virgens da Columbia Britânica, que são os habitat dos ursos pardos, dos
cachorros-do-mato, das lontras e das águias. Uma vez mais empilhadas em
paletes, as latas são transportadas ao armazém de distribuição regional e,
pouco depois, ao supermercado, onde normalmente as compram em três dias. O
consumidor adquire 350 mililitros de água com açúcar colorida com fosfato,
impregnada de cafeína e aromatizada com caramelo. Beber a Coca-Cola é questão
de alguns minutos; jogar a lata fora, de um segundo”, finaliza o texto.
Como vimos,
a produção e o consumo de muitos produtos são totalmente desiguais e
assimétricos. Meses de produção e segundos para consumo e descarte. Como diz um
famoso apresentador da televisão: “Isto é um absurdo”.
Publicado no jornal Cinform
17/01/2011 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do
Comércio / SE – Editorial jan/2011