terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Metabolismo industrial e educação ambiental



     O momento que vivemos mostra-nos, a todo instante, a importância da educação ambiental como tema obrigatório e, preferencialmente, transversal a toda atividade escolar ou laboral. A ética da produção que aceitamos como correta se mostra caduca e carece de profunda revisão, sob pena de esgotarmos nossa maior riqueza: a natureza.


Para melhor compreensão transcrevo a seguir um texto extraído do livro Capitalismo Natural, de Paul Hawken e outros, que descreve a complexidade e a energia consumida para a produção de uma simples lata de Coca-Cola:


“Um interessante estudo de caso mostra a complexidade do metabolismo industrial no livro Lean Thinking (O Pensamento Estéril), de James Womack e Daniel Jones, que acompanha a origem e a trajetória de uma lata de Coca-Cola inglesa. A fabricação da lata resulta mais custosa e complicada que a da própria bebida. A bauxita é extraída na Austrália e transportada para um separador, que, em meia hora, purifica uma tonelada de minério, reduzindo-a a meia tonelada de óxido de alumínio. Quando acumulado em quantidade suficiente, o estoque é embarcado em um gigantesco cargueiro que o leva à Suécia ou à Noruega, onde as usinas hidroelétricas fornecem energia barata. Depois de um mês de travessia de dois oceanos, ele passa dois meses na fundição. Ali, um processo de duas horas transforma cada meia tonelada de óxido de alumínio em um quarto de tonelada de metal alumínio em lingotes de dez metros de comprimento. Estes são tratados durante quinze dias antes de embarcar para as laminadoras da Suécia ou da Alemanha. Lá, cada lingote é aquecido a quinhentos graus Celsius e prensado até atingir a espessura de 0,30 centímetros. As folhas resultantes são embaladas em rolos de dez toneladas e transportadas a um armazém e, depois, a uma laminadora a frio do mesmo país ou de outro, onde voltam a ser prensados até ficar dez vezes mais finas e prontas para a fabricação. O alumínio é, então, enviado à Inglaterra, onde se moldam as folhas em forma de latas que, a seguir, são lavadas, secadas, esmaltadas e pintadas (ainda não tem tampa), recebem uma camada protetora, que evita que o refrigerante as corroa, e passam pela inspeção. Colocadas em paletes, são erguidas pelas empilhadeiras e ficam armazenadas nas prateleiras. No momento do uso, são transportadas até a engarrafadora, onde as lavam e limpam uma vez mais e as enchem de água misturada com xarope aromatizado, fósforo, cafeína e gás de óxido de carbono. O açúcar vem das plantações de beterraba da França depois de passar pelo transporte, a usina, a refinação e o embarque. O fósforo, originário de Idaho, nos Estados Unidos, é extraído em minas profundas – processo esse que também desenterra o cádmio e o tório radiativo. As empresas de mineração consomem permanentemente a mesma quantidade de eletricidade que uma cidade de 100 mil habitantes a fim de dar qualidade alimentar ao fosfato. A cafeína vai da indústria química para o fabricante do xarope na Inglaterra. As latas cheias, depois de vedadas com uma tampa pop-top de alumínio a um ritmo de 1.500 por minuto, são embaladas em caixas de papelão com as mesmas cores e esquemas promocionais. Estas foram feitas com polpa de madeira oriunda de qualquer lugar, da Suécia à Sibéria e às antigas florestas virgens da Columbia Britânica, que são os habitat dos ursos pardos, dos cachorros-do-mato, das lontras e das águias. Uma vez mais empilhadas em paletes, as latas são transportadas ao armazém de distribuição regional e, pouco depois, ao supermercado, onde normalmente as compram em três dias. O consumidor adquire 350 mililitros de água com açúcar colorida com fosfato, impregnada de cafeína e aromatizada com caramelo. Beber a Coca-Cola é questão de alguns minutos; jogar a lata fora, de um segundo”, finaliza o texto.


Como vimos, a produção e o consumo de muitos produtos são totalmente desiguais e assimétricos. Meses de produção e segundos para consumo e descarte. Como diz um famoso apresentador da televisão: “Isto é um absurdo”.



     

Publicado no jornal Cinform 17/01/2011 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do Comércio / SE – Editorial jan/2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

2011 - O Ano Internacional da Floresta




     A ONU – Organização das Nações Unidas declarou 2011 o ano internacional da floresta. A intenção é chamar à atenção de todos para o risco iminente de extermínio das florestas do planeta. As ameaças às florestas existentes vão desde a comercialização da própria madeira à ampliação das fronteiras agropecuárias com a criação de pastos e áreas de plantio, passando pelas carvoarias clandestinas que a tudo carbonizam.


A extinção das florestas implicará em inviabilizar a existência da própria humanidade. Não se trata de alarmismo vazio. É uma questão de lógica, senão vejamos: a natureza é sabia em suas construções, afinal, são milhões de anos de evolução até o momento presente. Disso resulta que os animais e as plantas, nas suas devidas especialidades são muitos mais eficientes que a nossa tecnologia industrial para a produção de materiais e no consumo de energia. Assim, o cimento da casca de um ovo de galinha ou da concha do mar são muito melhores que os derivados de nossas fábricas. O mesmo se pode afirmar do insuperável fio de seda produzido por uma aranha.


Hoje, a moderna ciência estuda a natureza com a finalidade de conhecer seus mecanismos e estruturas mais eficientes para copiá-los e aprender com eles. Chamam-se biomimética e biônica tais ramos científicos.


Do ponto de vista econômico, as florestas formam um estoque de biodiversidade equivalente a um imenso tesouro de conhecimentos a serem desvendados pela humanidade. Podemos crer que para todas as doenças existentes há de haver remédios naturais. Não é exagero pensar que se a doença é um desequilíbrio natural, então sua compensação deve estar no mesmo nível de natureza.


Mais vale uma Amazônia que qualquer reserva de pré-sal brasileiro. Como tendência, sabemos que o futuro econômico está no valor do conhecimento e não dos materiais em si. Isso já ocorre com as produções imateriais do entretenimento, das patentes, das marcas, do software, da cultura, dentre outros. Cresce a corrida por patentes da indústria farmacêutica geradas a partir da biodiversidade florestal, ao mesmo tempo em que as produções materiais perdem espaço na economia global, a exemplo do poluente petróleo. Dessa forma, o conhecimento está tão valorizado que faz com que 1 kg de satélite tenha o mesmo preço que 2.000.000 kg de soja.


Os quatro principais e maravilhosos biomas brasileiros são: Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. Em todos eles é possível haver um manejo que equilibre o consumo com a reposição natural de forma economicamente viável. É possível ainda, que dessa maneira se possa ajudar a própria natureza à medida que se sanitiza o lugar e eliminam-se pragas e parasitários. Segundo especialistas em recuperação ambiental, a Caatinga mostra-se o bioma mais recompensador ao bom interventor por reagir com vigor e gratidão ao manejo responsável. Economicamente, deve-se limitar o trabalho à farta produção de excedentes florestais, para assim, explorar indefinidamente este manancial de riquezas e empregos.


Outros fatores que nos incentivam à manutenção da floresta estão ligados a soberania nacional. Historicamente, nenhum império sobreviveu à destruição de suas florestas. A floresta foi decisiva na derrota dos americanos na guerra do Vietnam. Nesse conflito a indústria bélica desenvolveu o conhecido “agente laranja”, desfolhante pulverizado por aviões com a finalidade de derrubar as folhas das árvores para localizar frentes inimigas dentro da mata. Algo parecido ocorreu com Portugal, cujo declínio imperialista coincide com a extinção do carvalho consumido sem limites na produção das embarcações.


Considerando que estamos no início de um novo ano, época de promessas e esperanças renovadas, penso oportuno dizer algo de visão muito pessoal sobre florestas, árvores e reino vegetal.


As árvores são os maiores seres vivos da Terra. Também são os únicos que ligam as forças telúricas minerais sólidas, a exemplo do intemperismo, com as forças celestes fluidas mais sutis, como o co2 e a radiação solar, usando a seiva líquida, como veículo de comunicação. As pequenas plantas de curtas raízes não conseguem cumprir esse mesmo papel. Daí, os cereais e as gramíneas não substituírem funcionalmente as florestas.


Por fim, aproveitemos para lembrar a história de Jesus Cristo, filho de um marceneiro, que morre numa cruz de Cedro, madeira que tem o estigma de ser incorruptível. Este mesmo Jesus, em uma de suas mais ricas passagens declarou que no trigo está Seu corpo e no vinho, derivado da uva, o Seu sangue. Tudo isso se refere ao reino vegetal, demonstrando diretamente a presença do Cristo nas plantas. Assim, nos cabe refletir se ao maltratarmos as florestas hoje, não estamos repetimos as chicotadas aplicadas no Seu corpo, há dois mil anos, com a mesma ignorância dos homens de então.        



 

Publicado no jornal Cinform 03/01/2011 – Caderno Emprego