Há mais de cinquenta anos,
o mundo assistia ao lançamento do satélite pioneiro Sputnik, originado na
extinta URSS. Fato este que marca o início da disputadíssima corrida espacial
protagonizada por soviéticos e americanos. A conquista do espaço sideral
representava o poderio militar dos países líderes de blocos geopolíticos. A
superioridade americana só se tornou visível quando a nave Apolo XI, tripulada
por três astronautas pousa na lua em 1969, levando o homem a por os pés no nosso
satélite natural pela primeira vez. Cena transmitida ao vivo para um bilhão de
espectadores na Terra. Famosa tornou-se a frase do astronauta Neil Armstrong,
pioneiro a sair da cápsula e caminhar na lua: “Um pequeno passo para um homem,
um grande salto para a humanidade”.
Os astronômicos
(literalmente) orçamentos destinados à corrida espacial foram reduzidos
gradativamente após o fim da guerra fria, implicando na economia de bilhões de
dólares. Embora a NASA, agência espacial americana, tenha gasto muito dinheiro
na sua época áurea, também, foi uma das instituições mais transformadoras do
mundo. Das suas pesquisas resultou o registro de cerca de 6.300 patentes de
produtos inovadores, destacando filtros para água, aparelhos ortodônticos
invisíveis, lentes óticas resistentes a arranhões, detectores de fumaça
ajustáveis, ferramentas elétricas sem fio, dentre outros.
Hoje, a corrida espacial
está mais difusa nos seus objetivos, ofertando serviços inestimáveis nas áreas
de logística, navegação em geral, comunicação e controle ambiental. O GPS
(sistema de posicionamento global) é fruto de tecnologia espacial, assim como
as transmissões de sinal de TV de uma Copa do Mundo irradiada simultaneamente
para centenas de países. O fato é que hoje, faz muito tempo que o homem não
pisa na Lua.
Mas o que a corrida
espacial tem a ver com educação? Do ponto de vista da educação profissional
temos ai à oportunidade de gerar técnicos altamente qualificados para a
crescente demanda por serviços prestados pelos mais diversos satélites
artificiais, inclusive brasileiros. Já, sob a ótica da educação formal, temos
no campo da astronomia e astronáutica a infinita possibilidade de atividades
transversais ou interdisciplinares motivadoras. Certamente, por trás do
lançamento de um projétil que percorrerá longos trajetos com alterações
ambientais extremas, há de ser trabalhado um arranjo de várias disciplinas do
conhecimento humano para a superação dos severos desafios impostos ao nosso
foguete. Durante a viagem espacial, por exemplo, o lado voltado para o sol em
um foguete chega a aquecer a mais de 120° C, enquanto o lado que está na sombra
esfria a -100° C. Qual a alimentação adequada para os tripulantes? Como tratar
os excrementos humanos? Como a ausência de gravidade altera a saúde física e
psíquica dos seres humanos? Essas perguntas norteiam temas geradores para a
pesquisa e a criatividade das respostas que, com efeito, ultrapassarão os
conteúdos de qualquer disciplina escolar isolada.
Costumo diagnosticar que a
deficiência educacional brasileira está na ausência ou no sub-dimensionamento
de atividades pedagógicas para as boas práticas do conviver e do
desenvolvimento de hábitos socialmente construtivos. Também definhamos nas
atividades pedagógicas que eduquem a vontade, ou seja, a volição. Enquanto
gestor de escola de educação profissional, tenho minha atenção voltada para a
formação de nossos alunos no conhecimento, nas atitudes e nas habilidades
necessárias aos profissionais competentes. Costuma-se exagerar na construção do
conhecimento nos alunos, como se isso bastasse. Vejo o conhecimento como a
porta de entrada para o trabalho, porém, o que conserva o emprego e garante
ascendência na carreira profissional são as atitudes e habilidades do
trabalhador. Menos de 20% das demissões são ocasionadas por falta de
conhecimento do brasileiro.
Nesse cenário, o SENAC em
Sergipe está desenvolvendo a corrida espacial entre centenas de adolescentes
aprendizes que estão empenhados em levar a marca de suas empresas para o alto,
estampadas em foguetes que estão
fabricando, aplicando conhecimentos diversos, desenvolvendo habilidades manuais
e técnicas, e acima de tudo, aprendendo a trabalhar em equipe. Esses
bólidos estão sendo construídos com material reciclado, e o combustível
propulsor é água pressurizada. Inócuo, portanto, do ponto de vista ambiental.
Nessa oficina existe um orientador habilitado pela Agência Espacial Brasileira
e a contagem regressiva já está em curso até o dia 16 de outubro quando os
foguetes serão lançados às 9 horas, no Parque da Sementeira. Esse espetáculo é
uma homenagem aos professores pela passagem do seu dia, 15 de outubro.
Ah! E por que o homem não
pisou mais na Lua? Talvez atendendo a pedidos diversos, como na marchinha:
“Todos eles estão errados/
A lua é dos namorados/ Lua, oh lua/ Querem te passar pra trás/ Lua, oh lua/
Querem te roubar a paz/ Lua que no céu flutua/ Lua que nos dá luar/ Lua, oh
lua/ Não deixa ninguém te pisar.”
Publicado no jornal Cinform 11/10/2010 – Caderno Emprego
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