Durante o processo de criação o homem vive um momento de
inspiração, no qual ocorrem as idéias a serem aplicadas no seu desafio. Aqui, a
palavra inspiração tem o mesmo sentido que o movimento da inspiração do ciclo
da nossa respiração. É o momento em que trazemos para dentro de nós o elemento
exterior que será metabolizado por nossa interioridade, para em seguida ser
expirado por nossas narinas ou por nossas ações.
Porém, que metabolismo é esse por que passam as idéias? É o
processo de identificação conosco, ou seja, é a humanização da criação. Desta forma,
podemos afirmar que tudo que o homem cria ou faz é a reprodução de si próprio.
Podemos então, sem sustos, afirmar que o mundo exterior é
plenamente espelhado ou refletido num mundo interior igualmente infinito. Esse
mundo interior é o espaço a ser trabalhado através da educação, para que cresça
e acomode uma compreensão mais ampla e complexa da realidade exterior.
Se nos é difícil compreender isso hoje, temos um consolo e um
forte estímulo também para reverter nossa limitação. Na antiga Grécia, em 400
a.C., Sócrates reafirmava: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o
universo”.
Quando criamos uma empresa ou qualquer outra instituição o fazemos
a partir do modelo do desenvolvimento humano vivido, com primeira infância,
segunda, adolescência e fase adulta.
Na primeira infância, fase que vivemos dos 0 aos 7 anos, a
prioridade é plasmar um corpo físico próprio, emancipado das células doadas
pelo ventre materno. A criança dessa idade possui saúde instável e variações
bruscas de febres que revelam pouco domínio sobre seu metabolismo. Do mesmo
modo, as empresas nascentes priorizam a construção de seu corpo físico, dotado,
frequentemente, de um espaço físico com móveis, utensílios e equipamentos
imprescindíveis ao seu desenvolvimento. A saúde deste empreendimento é instável
e, semelhantemente à criança, suas células podem ser fruto de empréstimos
também.
A fase seguinte, entre os 7 e 14 anos, é da criação de hábitos e
ritmos na criança e pela busca de ídolos. Todos os hábitos, bons e ruins,
cultivados nessa fase são, via de regra, solidificados pelo resto da vida. Nas
empresas esse mesmo fenômeno se dá pela necessidade de criação de processos
internos, de organizar suas rotinas, estabelecer alçadas e limites de
competências, organogramas e evidenciar sua missão e visão, a serem
idolatrados. Agora, a empresa necessita mais organizar seus processos que seus
bens físicos.
A adolescência, compreendida entre os 14 e os 21 anos, é conhecida
por impulsionar os jovens em direção à construção do social. É o período em que
há necessidade de buscar a identidade grupal, a delimitação de seu espaço
coletivo e a afirmação da individualidade através de riscos a que se expõe. Uma
fase, como sabemos, de conflitos freqüentes.
Paralelamente, nas empresas, uma
vez superada a obrigação de ser organizar e estabelecer seus processos
internos, a necessidade passa a ser a criação do social em seu setor de
atividade. Neste ponto, as organizações passam a serem vistas como modelos
potenciais em seu campo de atividade e, assim, seus gestores sentem-se
convocados a participarem mais ativamente do movimento classista, seja por
representação sindical, seja opinando na elaboração de políticas públicas
atinentes ao seu negócio. A empresa atinge nesse momento uma grande
visibilidade, que lhe confere alta exposição e consequentes riscos à sua imagem
decorrentes de disputas por espaço político.
Finalmente, a fase adulta se caracteriza pela formação da
identidade. Nessa idade, os seres humanos fortalecem a própria imagem e expõe
seu caráter como atributo construído ao longo da vida fazendo dele, por vezes,
seu principal valor ao buscar reproduzir nos seus descendentes essa marca individual. Nas empresas, chegada essa fase,
ocorre um processo de institucionalização de sua imagem. É um período de
engessamento de seus métodos e valores. Cria-se uma imagem tão sólida e
impregnada de valores que oferece grande segurança aos seus funcionários,
parceiros, fornecedores e clientes, mas que pode virar uma ameaça à sua própria
sobrevivência na medida em que perde o dinamismo exigido pelo mercado.
Essa comparação meramente ilustrativa é para mostrar a partir da
imagem biográfica do ser humano organizada pela Antroposofia que as nossas
criações são inspiradas em
nós mesmos. Nas pessoas o ciclo biológico é muito próximo
entre os indivíduos, permitindo homogeneizar a regra cronológica.
Diferentemente, nas organizações a sequência é bastante comum a todas, porém,
os tempos podem variar bastante entre elas. Isso já se dizia há mais de 25
séculos, na famosa Grécia quando Protágoras afirmava pelas esquinas que: “O
homem é a medida de todas as coisas”.
Publicado no jornal Cinform
25/10/2010 – Caderno Emprego