Na antiga Grécia surge a figura do pedagogo como sendo o escravo que, equipado com uma lanterna, conduzia as crianças até as palestras, além de as acompanharem na execução das lições e tarefas exigidas. Assim, a imagem do pedagogo na sua forma mais original é a de alguém que atua ofertando as condições para que a educação aconteça da maneira mais efetiva e segura possível para além, como se vê, do interior da escola. Desta forma, a lanterna simboliza bem mais que a simples fonte de luz necessária para atravessar o caminho escuro mas, a iluminação que o conhecimento dá ao homem. Essa imagem da lanterna na mão do pedagogo ajuda a induzir muitos educadores ao erro de significar o termo aluno como “sem luz”. Tal afirmação é indevida pois trata-se de verbete de origem latina traduzido como “lactante”, ou “aquele que necessita ser nutrido”.
Nas escolas de pedagogia
atuais o currículo prende-se demasiadamente ao estudo dos teóricos da educação
e pouco às metodologias de ensino e aprendizagem. Muitos educadores saem de
tais cursos extremamente ideologizados e, consequentemente, tão apaixonado por
um grande autor da pedagogia quanto desafetos de outros.
Devemos, de fato, render
homenagens a grandes teóricos da educação. Piaget, por exemplo, nos trouxe
contribuições fantásticas no campo da cognição e suas conexões biológicas. Já,
Paulo Freire nos instrumentaliza para a humanização e a relação dialógica do
aluno com o professor. Por sua vez, Vygotsky apresenta os fundamentos da
interação social como fator decisivo da aprendizagem. Diferentemente, Skinner,
demonstra cientificamente que a aprendizagem pode ser realizada por
condicionamentos a partir de reforços físicos e/ou sensoriais. Por outro lado,
Steiner nos apresentou uma pedagogia de grande completude no desenvolvimento
humano. Como vemos, é grande a lista de gigantes da educação, que ainda pode
ser acrescida por Rousseau, Pestallozzi, Froebel, Ferrer, Dewey, Dècroly,
Makarenko, Ferrière, Cousinet, Neill, Rogers, Robin, Montessori, Emilia
Ferreiro, dentre outros.
Ora, como pode haver
tantos defensores do processo de aprendizagem se baseando em pilares tão
distintos na defesa dos seus objetivos educacionais? Será que algum deles está
plenamente correto? Se for verdade, então significa dizer que os demais erraram
nas suas propostas. Quem acertou? Quem errou? Ou não existe isso?
Vejamos o seguinte: cada
grande teórico prioriza um eixo do desenvolvimento humano. E por este caminho
fragmentado apresenta seus resultados. Será que chegaram a plena conclusão de
suas teses ou estavam em processo permanente de construção? Geralmente os
discípulos são apegados a interpretações rasas das teses de seus mestres,
distorcendo assim, sua aplicação. Exemplo disso é a interpretação degradante
que por interesse ideológico aplicam indevidamente à palavra “aluno”.
A educação se dá no
domínio da alma humana, isto é, na interioridade da pessoa e se manifesta
através do pensar, do sentir e do agir. Da mesma forma como ninguém é
considerado competente apenas por ter habilidade sem ter os conhecimentos e as
atitudes correspondentes. Também, não podemos dizer que alguém é educado se tem
apenas conhecimento, sem os correspondentes níveis de controle emocional e sem
fazer aquilo que diz saber.
Como citamos o pensar, o
sentir e o agir, podemos relacioná-los diretamente com três dos quatro pilares
da educação no século XXI, propostos por Edgar Morin. Assim, nosso raciocínio
é: existe uma linha teórica mais adequada para o desenvolvimento de cada pilar?
Vemos que a linha teórica de Piaget, emblematicamente, prioriza a cognição
(aprender a aprender); já, Paulo Freire e Vygotsky priorizam o desenvolvimento
social do indivíduo (aprender a conviver); e finalmente, Skinner, valoriza o
fazer, o agir educado (aprender a fazer).
Como pode alguém
apaixonado por qualquer linha teórica da pedagogia querer aplicar sua
metodologia para toda a abrangência da educação? Vejo que um dos erros da
escola brasileira é ter muito discurso e pouco resultado final. Enquanto nós
pedagogos não formos capazes de levar os alunos a desenvolverem conhecimentos,
habilidades e atitudes, estaremos cada vez mais agarrados a discursos bem
fundamentados, cheios de citações, úteis em ultima análise, para justificar o
porquê não dá certo.
Penso que é natural que
tenhamos o nosso teórico predileto. Também tenho o meu. Mas, como técnico em
educação tenho a obrigação de usar a metodologia mais indicada ao caso e educar
equilibradamente o pensar, o sentir e o agir.
Publicado no jornal Cinform
05/07/2010 – Caderno Emprego
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