Ao voltarmos um pouco no
tempo, veremos que o trabalho sofreu grandes transformações na sua essência.
Nem todos vemos isso com clareza, pois ainda somos fortemente influenciados por
modelos mentais antigos e também pelo meio cultural em que vivemos.
Paralelamente, existem no Brasil ambientes culturais profundamente
diferenciados. Como exemplo, pode-se citar o contraste dos grandes centros
financeiros e tecnológicos do Sudeste com a agricultura familiar de
subsistência nordestina e também a cultura nortistas que ainda sobrevive da
coleta na floresta.
Ao olharmos a linha do
tempo do trabalho humano, vislumbramos que na Idade Média, excluindo-se o
trabalho escravo, as famílias produziam o que podiam para elas mesmas. O agricultor
produzia o que sua família necessitava consumir, assim como fazia o artesão. As
possibilidades comerciais eram limitadíssimas e o mundo destas pessoas era
menor ainda. Hoje, numa sociedade industrial ou pós-industrial, desconheço
trabalhador que produza para si ou para a própria família. Auxiliados pela
tecnologia, vivemos a época da grande produção de excedentes que têm sua
distribuição potencialmente pulverizada por todo o globo.
Saímos de uma relação
socialmente restrita do trabalho para um contexto social amplo e complexo da
nossa participação na vida econômica. Não se pode dizer que é uma mudança
pequena ou desconsiderável. Trabalhamos para os outros, geralmente anônimos e
desconhecidos. O fruto de nosso trabalho nas grandes organizações é destinado a
consumidores inimagináveis, mas certamente exigentes de qualidade e segurança
no que consomem.
A regra básica de
sobrevivência econômica é produzir bens - e serviços - da melhor forma possível para um consumidor
desconhecido. Sem a obediência a essa lei, a chance de sucesso empresarial é
nula. Penso que essa regra possui a mesma natureza original do conceito de
fraternidade: fazer o bem sem olhar a quem.
Precisamos nos
conscientizar da verdadeira lei que rege a atividade econômica, e portanto, nosso
trabalho: a fraternidade. Quando estamos no nosso labor, estamos à disposição
do outro, seja colega de empresa, fornecedor, consumidor, ou outros. Para eles
dedicamos nosso conhecimento, nosso tempo, nossas ações e até, nossos
sentimentos. Acredito que trabalharemos melhor e mais satisfeitos se pensarmos
dessa forma, posto que enfrentaremos menos conflitos internos e externos.
Muitas vezes insistimos em
erros que nem sabemos por que. Temos a tendência a reproduzir os ensinamentos
que recebemos seguindo a mesma metodologia e, assim, somos conservadores e
ousamos pouco. Porém, temos uma chama dentro de nós que nos alerta que algo que
reproduzimos ou conceituamos hoje já não cabe bem frente à nova realidade.
Creio que com o trabalho deve acontecer o mesmo quando insistimos em ser mais
competitivos que colaborativos. Mas, a natureza humana é boa e cheia de luz,
ainda que reprimida. Porém, quando lhe é dado espaço para se manifestar a
explosão resultante contagia a todos à sua volta e nos faz viver momentos inesquecíveis
do contato com essa luz interior, como em uma notícia divulgada na internet:
“Há alguns anos, nas
olimpíadas especiais de Seattle, também chamada de Paraolimpíadas, nove
participantes, todos com deficiência mental ou física, alinharam-se para a
largada da corrida dos cem metros rasos.
Ao sinal, todos partiram,
não exatamente em disparada, mas com vontade de dar o melhor de si, terminar a
corrida e ganhar. Todos, com exceção de um garoto, que tropeçou no piso, caiu
rolando e começou a chorar. Os outros oito ouviram o choro. Diminuíram o passo
e olharam para trás. Viram o garoto no chão, pararam e voltaram. Todos eles!
Uma das meninas, com
síndrome de down, ajoelhou-se, deu um beijo no garoto e disse: "pronto,
agora vai sarar". E todos os nove competidores deram os braços e andaram
juntos até a linha de chegada. O estádio inteiro levantou e não tinha um único
par de olhos secos. E os aplausos duraram longos minutos.
E as pessoas que estavam
ali, naquele dia, repetem essa história até hoje. Por que? Porque lá no fundo,
nós sabemos que o que importa nesta vida é mais do que ganhar sozinho. O que
importa é ajudar os outros a vencer”, cita a matéria.
A experiência da
colaboração traz a todos nós a sensação de que é impossível agir de outra forma
na construção de uma sociedade mais justa e solidária. E essa nova sociedade
será fruto do nosso trabalho em equipe.
Reflita sobre sua ação no
mundo e seja feliz, afinal Trabalho é fraternidade.
Publicado no jornal Cinform
28/12/2009 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do
Comércio / SE – Editorial dez/2009