Desde a década de 1970, firmou-se o conceito de competência na
gestão de negócios como um conjunto de três fatores principais: conhecimento,
habilidades e atitudes, também conhecido como CHA por causa das iniciais de cada
palavra. Tal conceito deriva do trabalho do psicólogo e pesquisador da
Universidade de Harvard (EUA), David C. McClelland, que muito contribuiu para a
construção da teoria da gestão por competência. Seu trabalho foi aprimorado pelo aluno Daniel Goleman em
seu livro Inteligência Emocional (1997). Daí para frente muita tecnologia se
desenvolveu nas escolas de administração, com o reconhecimento de valores
interiores e aptidões das pessoas e seus reflexos na atividade econômica.
A nova ordem econômica mundial descobriu que pessoas são fatores
indispensáveis de produção. Indispensáveis, mas não do ponto de vista adotado
quando falamos da produção de bens tangíveis que podem ser manufaturados com
perfeição superior por robôs. Mas sim, indispensáveis na produção de bens
intangíveis, frutos de aplicações intensas de conhecimento como são os
softwares, os filmes, o entretenimento, as patentes, a nanotecnologia e as
marcas. Nesta nova ordem econômica, apenas pessoas com seus talentos podem
prover o mundo, ou o mercado como preferem alguns, com tais produtos em larga
escala de consumo.
À primeira vista, vemos uma supremacia do conhecimento sobre os
demais fatores que formam as competências, isto é, habilidades e atitudes. É
aqui que nos enganamos profundamente. Recentemente li um artigo científico
intitulado “Por que as empresas demitem?”, escrito por pesquisadores do CEFET
do Estado do Paraná, que me confirmou algo que já ouvira falar: 80% das
demissões são motivadas por razões atitudinais ou comportamentais, as demais
20% são resultantes de incapacidade técnica ou insuficiência de conhecimentos.
Aqui levamos em conta apenas as demissões com reposição de ocupante à vaga, ou
seja, sem extinção do posto de trabalho.
São problemas típicos de atitude comuns nas organizações: a
indisciplina, o desrespeito a hierarquia, as ofensas, o descumprimento de
horários, os desvios de caráter, não saber trabalhar em equipe, assédio moral,
danos ao patrimônio, dentre vários outros problemas que acontecem com
freqüência no cotidiano. Por que nossas atitudes não foram educadas como nosso
conhecimento? Pode a escola contribuir
para uma atitude saudável?
Creio que todos educadores desejam formar pessoas literalmente
competentes para gerir a própria vida. Pessoas capazes de escolher, produzir,
opinar, influenciar positivamente os outros, trabalhar, educar os filhos;
enfim, ser livre e com o próprio arbítrio construir um mundo melhor para todos.
Porém, como vimos, vivemos numa sociedade que supervaloriza a cognição, o saber
e a intelectualidade, em detrimento das outras faculdades humanas. Nossa
sociedade quer puxar tudo para a cabeça misturando esferas originalmente
distintas como o pensar e o sentir ao conceituar “inteligência emocional”, por
exemplo. Desta distorção resulta o desastre ambiental de nosso tempo e a
degradação social produtora de excluídos. Não sabemos colaborar, nem cuidar do
próximo. Vivemos numa sociedade onde não existe um bezerro sequer sem dono, mas
existem milhões de crianças “sem dono”. Onde não nos entendemos em uma simples
reunião de condomínio pela escolha do horário de trabalho do porteiro, mas
enviamos o homem à lua e coletamos rochas marcianas com indiscutível perfeição.
Parece que conferimos respostas do século XIX para perguntas do século XXI.
Quero ousar uma formulação a partir dos quatro pilares da educação
propostos pela UNESCO que nos
ajudará a diagnosticar falhas da educação frente à realidade do trabalho atual:
Competência = conhecimento + habilidades + atitudes.
Respectivamente:
Aprender a ser [competente] = aprender a aprender + aprender a fazer + aprender
a conviver.
Em ambos os casos a solução da equação passa pelo pensar, pelo
agir e pelo sentir, fundamentos educacionais insubstituíveis no desenvolvimento
integral do ser humano (1). Assim, se quisermos elevar nossas atitudes devemos
educar o sentir através de atividades artísticas, esportes coletivos, trabalhos
sociais voluntários e uma veneração religiosa à natureza. Além disso, os bons
exemplos de pais e professores influenciam definitivamente novas gerações.
Todos os grandes teóricos da educação vinculam a escola ao
trabalho, independentemente da orientação política dos seus discursos. Faço
aqui um alerta: se não fazemos isso bem
é porque falhamos pedagógica, econômica e socialmente. Talvez daí resultem
nossos miúdos índices de desempenho escolar e o graúdo número de dois milhões
de reclamações trabalhistas anuais do Brasil, numero 27 vezes maior que o
norte-americano e 250 vezes maior que o japonês. Realmente “só o Brasil é penta”, mas devemos
escutar o grande pensador contemporâneo Edgar Morin, autor da proposta dos 4
pilares da educação para o século XXI, que também relacionou escola com
trabalho e pode nos ajudar a depender
menos do futebol.
Vide “A pedagogia Waldorf”, jornal Cinform de 27/04/2009.
Publicado no jornal Cinform
25/05/2009 – Caderno Emprego
Publicado no Jornal do
Comércio / SE– Editorial mai/2009