As notícias da semana dão conta da
mais nova descoberta do espaço sideral: o planeta Marte possui água em estado
líquido. É bem verdade que se trata de uma verdadeira salmoura, visto que a
20ºC negativos ainda está líquida, tamanho a quantidade de sais presentes no
precioso mineral líquido.
Sejam muito bem vindas, ciência e
tecnologia com suas descobertas transplanetárias. Realmente, quando pensamos em
tecnologia, ainda que seja a dos gringos, nos sentimos todos orgulhosos com os
feitos da raça humana. De fato, tecnologia tem cheiro de perfeição.
Brevemente, é previsível, estaremos
fazendo selfies em Plutão ou até, quem sabe, na Ursa Maior e, liberando a
internet do seu atual confinamento no planeta Terra para todo o universo.
Levaremos, portanto, o Facebook a outros seres, ditos extraterrestres e, então,
na hora de postar nossas melhores fotos, entraremos em choque com a triste paisagem
nelas exibida.
A descoberta, tão intrigante quanto
anunciada, da água marciana deveria nos servir para uma profunda reflexão.
Comemoramos a presença da água contaminada a zilhões de quilômetros de casa e
não somos capazes de cuidar e tomar medidas capazes de revitalizar o vizinho e
potável rio São Francisco ou atenuar a escassez hídrica que se generaliza em
todo o País.
Assustador pensar que as notícias dos
grandes feitos tecnológicos desviam a atenção dos problemas reais gerados por
nosso modelo capenga de desenvolvimento. É uma verdadeira cortina de fumaça ver
tanta água em Marte e nenhuma no Velho Chico ou na Cantareira. Com efeito, soa
tão estranho crer que a água de Marte trará solução para a sede da humanidade
quanto esperar pela paz a partir do planeta símbolo da guerra.
Se para a tecnologia a palavra de
ordem é PERFEIÇÃO, para o meio ambiente terrestre tal palavra parece ser EROSÃO
e, para a ordem social, talvez seja EXCLUSÃO. Enquanto nos preocuparmos com a
chance de levar vida humana ao planeta vermelho e deixarmos água parada em
pneus, penicos e vasos nos terrenos baldios vizinhos, atraindo e produzindo
Dengue e, ainda, jogarmos lixo e resíduos nas ruas a entupir bueiros, alagando
as cidades; não podemos dizer que estamos nos desenvolvendo de forma saudável,
civilizada e humana; apesar de conhecermos tudo sobre Marte. Também não é
suficiente denunciar ou pronunciar discursos contundentes e faltar o gesto ou,
carecer de ação efetiva.
Alô, alô marciano, depois de destruir
o meio ambiente terrestre, a humanidade já está de olho no seu jardim. Se cuida,
desumano.
Publicado no Jornal da Cidade
- Caderno A em 04/10/2015
Publicado em 05/10/2015 no site http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/sao-as-aguas-de-marte/90784/
Publicado em 05/10/2015 no site http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/sao-as-aguas-de-marte/90784/