quarta-feira, 25 de março de 2015

Águas do São Francisco e outras finas aguarias


O ano de 2015 encerra a Década da Água (2005/2015), assim proclamada pela ONU – Organização das Nações Unidas, com o objetivo de alertar a humanidade sobre a finitude desse recurso. O Brasil, infelizmente, parece encerrar essa década juntamente com a própria água. Nosso país, sempre reconhecido pela abundância de água doce, se vê em uma crise hídrica sem precedentes.
Vale lembrar que nesse mesmo Brasil, durante a Conferência da ONU para o Meio Ambiente, ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, se deliberou que o dia 22 de março passaria a ser considerado o Dia Mundial da Água. Desde então, anualmente se escolhe um tema central para a data, sendo para 2015: “Água e Desenvolvimento Sustentável”.
Nosso país, rico possuidor de quase 15% da água doce do planeta, a possui distribuída de forma desigual. A bacia amazônica detêm 80% desta, ficando o restante para as demais regiões de forma repetidamente desigual, ao sacrificar o Nordeste. Contudo, o regime pluviométrico aliado ao uso indiscriminado das reservas e o desmatamento, estão levando a região Sudeste a enfrentar inédito desabastecimento de água.
Com efeito, a riqueza da água, supera em muito a necessidade de consumo humano, estimado em 10% de todo o uso, restando à indústria e à agricultura o restante. Vejamos algumas curiosidades quantificáveis:
Embora seja um mineral, a água é o único encontrado nos três estados na natureza. Isto é, sólido, líquido e gasoso. É considerada o solvente universal, graças a sua capacidade de solubilizar inúmeros produtos e elementos químicos.
Apenas 2,5% da água existente na Terra é classificada como “água doce”. Dessa quantidade, 0,5% encontra-se em depósitos subterrâneos e 0,01% em rios e lagos. Muito finita, portanto. Durante um período de 100 anos uma molécula de água passa aproximadamente 98 anos no oceano, 23 meses em forma de gelo, 3 semanas em lagos e rios e 1 semana na atmosfera.
A todos, enriquece a leitura da excelente apostila “Os quatro reinos da natureza”, escrita pelo médico, Dr. Gerardo Blanco (in memoriam). Texto que apresenta importantes aspectos qualitativos sobre esse elemento, como segue abaixo:
É o mineral que mais se aproxima dos reinos superiores, sendo veículo da ideia de vida.
Sempre descreve formas orgânicas reveladoras nos seus rastros.
Contraria a gravidade por meio do empuxo, cujo vetor aponta para o cosmo. Igualmente sobe, sem qualquer auxilio, em tubos capilares.
Em contato com a Terra assume forma tridimensional, moldada pelo relevo. Opostamente, assume característica bidimensional quando voltada para o céu, que espelha com sua superfície superior plana; ou ainda, quando no limite da atmosfera terrestre forma cristais planos (neve), impossíveis de serem gerados em baixa altitude.
Inúmeras experiências revelam que a água possui “memória”, alterando suas características pelas substâncias nela dissolvidas, ou pela ocorrência de eventos cósmicos às quais se submeteu. Dessa interação cósmica/terrena, a medicina homeopática faz da água seu principal veículo medicamentoso.
Contudo, água, ou melhor, a falta desta, nos traz de volta ao Brasil, onde notícias tristes recentes anunciaram a primeira seca da história da nascente do rio São Francisco e o desesperado clamor pelo abastecimento na maior cidade do país. Além, do iminente risco de racionamento elétrico causado pelo insuficiente estoque hídrico.
Paralelamente, a vivência da seca pelos paulistas, faz do admirado estado um lugar cada vez mais nordestino. Lá, por exemplo, a Câmara de Vereadores de Birigui aprovou por unanimidade, projeto do vereador Vadão da Farmácia (PTB), que institui o 'Caldo de Jegue' como prato típico da cidade. A iguaria é feita há dez anos pelo comerciante Manoel Marques Espedo, de 67 anos, o popular Mané Simpatia. Por certo, simpatizante do típico animal do árido sertão.
         Se o pitoresco “Caldo de Jegue” de Birigui e o foie gras (fígado inchado de ganso), citado na Odisseia de Homero, formam legitimas iguarias; o mesmo já acontece com águas raras como as mineiras magnesianas de São Lourenço e as da nascente do São Francisco; ou ainda, as da sofrida Cantareira. Verdadeiras aguarias.


       Publicado no jornal Cinform de 30/03/2015 – Caderno Municípios
       Publicado no Correio de Sergipe - Caderno B em 25/03/2015
       Publicado em 22/03/2015, no site http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/aguas-do-sao-francisco-e-outras-finas-aguarias/85861/

segunda-feira, 2 de março de 2015

O melhor cliente do mundo


Notáveis marqueteiros dizem que a venda mais importante que se realiza é a segunda, para um mesmo cliente. Sinal que ele aprovou a primeira experiência e repetiu. Porém, quantos são os lojistas que mantêm seus negócios focados na satisfação do cliente? Infelizmente, não é difícil encontrar comerciantes que ainda veem o consumidor como um objeto estranho ao bom funcionamento de sua casa comercial, o conhecido mal necessário.
Para o experiente consultor de marketing César Souza, autor de livros sobre o tema, a empresa saudável deve “vestir a camisa do cliente” e colocá-lo no centro do próprio organograma, de forma a tê-lo como astro central, em torno do qual toda a organização deve orbitar. Para materializar a questão, César Souza desenvolveu o conceito de Clientividade.
Embora lançado em 1998 e ainda pouco praticado, o conceito de Clientividade é muito lúcido e oportuno; e parte dos seguintes pressupostos básicos: Os clientes não compram produtos, compram a realização de sonhos; cada cliente é um vendedor e não apenas um comprador; todos os colaboradores de uma empresa são vendedores.
Recentemente, o autor lançou novo livro, sob o título “A NeoEmpresa – O futuro da sua carreira e dos negócios no mundo em reconfiguração”, no qual revisita a clientividade, projetando-a para a empresa do futuro. Dessa forma, César Souza aponta práticas corretas para que as “neoempresas” atinjam sucesso em um mundo extremamente volátil:
1-    Colocam o cliente no centro do organograma. Cuidam dele e não apenas do produto.

2-    Transformam clientes em “apóstolos”. Conquistam fãs em vez de clientes, pois conhecem a sua alma, entram no seu imaginário, sabem quais são seus sonhos e antecipam desejos.

3-    Vendem o tangível e o intangível - o não produto: confiança, credibilidade, transparência, personalização e flexibilidade.

4-    Antecipam as necessidades do cliente e o educam para o que necessita, não fazendo apenas o que ele deseja.

5-    Entendem, atendem, oferecem, segmentam, conhecem e customizam, ao contrário da sequencia tradicional que primeiro oferece para depois atender e só então entender.

6-    Estabelecem pontos de compra (PDCs) e não pontos de venda (PDVs).

7-    Transformam canais de distribuição em parceiros integrados, em vez de apenas tratá-los como meros canais.

8-    Encantam talentos para encantar clientes, pois sabem que não existe cliente encantado em empresa com talentos infelizes.

9-    Oferecem soluções integradas a seus clientes, em vez de apenas produtos.

10- Usam a tecnologia como recurso para facilitar a vida dos clientes e não para impor normas unidirecionais.

11-  Motivam todos na empresa, do porteiro ao presidente, a ser responsáveis pelo relacionamento com os clientes.
O segredo, portanto, é tão sutil quanto efetivo. A oferta final vai além do produto ou da busca original do cliente. Ela envolve solução, como foi dito. Assim, não é a fachada ou a prateleira da loja que resulta em fidelizar o cliente, especialmente em um mundo com tantas commodities e mercadorias padronizadas. Vejam que o que diferencia a empresa moderna da ultrapassada está no intangível ou no imaterial, e não na data de sua fundação.
Uma revolução copernicana se faz necessária para colocar o cliente no centro do universo empresarial e assim, por meio do servir, tocar a alma do comprador. Isso mesmo! Coloquem mais alma e mais humanidade nos seus negócios. Aliás, como disse Antoine de Saint-Exupéry: o essencial é invisível aos olhos.
As palavras-chaves são: atitude, empatia - se colocar no lugar do cliente-, credibilidade, confiança, entendimento, entregar e servir. Coisas que não aparecem diretamente nas rubricas do balanço nem no preço da empresa, contudo podem valer mais que tudo isso. As marcas Microsoft, Apple ou Google valem mais que a soma dos seus ativos tangíveis. Quem sabe, o mesmo acontece com o centenário Quintana’s Bar? Onde Carlos Drummond de Andrade, poeticamente leu o invisível do negócio:
"No Quintana's Bar,
sou assíduo cliente.
É um bar que não é bar,
é um bar diferente”.

Publicado no jornal Cinform de 02/03/2015 – Caderno Emprego
Publicado em 02/03/2015 no site http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/o-melhor-cliente-do-mundo/85327/
Publicado na revista TI&N nº 23 - abr/2015