segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O futuro é o seu maior concorrente


     A sabedoria popular ensina que “a vida é feita de escolhas”. Tal afirmativa encontra no berço da Economia um dos fundamentos dessa ciência: o custo de oportunidade. Ou seja, o custo implícito pela renúncia a todas as demais possibilidades, após termos feito uma determinada escolha. Assim, ao optarmos por fazer uma mesa de madeira, renunciamos, automaticamente, a todas as cadeiras, skates e janelas, por exemplo, que essa mesma madeira poderia prover.

     Esse mesmo princípio rege o dinheiro dos nossos clientes. Ao escolher um destino, ele renuncia a qualquer outro fim para esse capital.  Dessa forma, a concorrência entre empresas tem crescido demais. Aliás, na mesma proporção que a oferta de produtos e serviços, alavancados pelo agigantado hábito (ou vício) de consumo.

     Conceitualmente, classificamos os concorrentes como diretos ou indiretos: os diretos, mais óbvios, são formados por estabelecimentos muito parecidos entre si, que ofertam artigos semelhantes, com preços similares e pontos de vendas do mesmo tipo. Porém, podem ser também, estabelecimentos maiores, que miram o mesmo público-alvo, ofertam produtos iguais, contudo, com um mix maior, a exemplo das lojas de departamentos, locais ou via comércio eletrônico.

     Já os concorrentes indiretos são mais difusos e difíceis de localizarmos. São caracterizados por disputar os mesmos recursos e clientes, para fins bem diversos. Nessa categoria, encontramos uma imobiliária concorrendo com uma concessionária de automóveis, ou uma agência de viagens, ou ainda, qualquer outro ramo que dependa de disponibilidade de crédito. Assim, ao assumir dívidas relativas ao financiamento de um carro, o comprador compromete sua renda, inviabilizando-o, em geral, de realizar viagens turísticas ou de comprar um imóvel.   

     Surpreendentemente, a realidade da concorrência de mercado não para por ai, já que o consagrado economista Schumpeter (1883-1950) desenvolveu a teoria da “destruição criativa”, afirmando que a concorrência efetiva é dada pelos efeitos das inovações sobre as empresas existentes. Portanto, reforça que a verdadeira concorrência na economia capitalista não se dá entre pequenas empresas que produzem a mesma mercadoria ou serviço, mas aquela que as empresas inovadoras, nas quais se desenvolve a atividade empreendedora, exercem em confronto com as outras. Não é a concorrência que existe entre bens idênticos produzidos todos do mesmo modo, mas sim a que os produtos novos impõem aos antigos.

     Como se sabe, os ciclos de vida dos produtos estão cada vez mais curtos. Alguns deles são prometidos para apenas uma estação, como o “celular do verão” – vejam no Google -, quando este, deveria ser um bem durável. Assim, nada tende ao surgimento de uma nova, sexagenária Kombi. Qual seria o carro, lançado hoje, que sobreviveria em produção até 2070? 

     O Fenômeno do Empreendedorismo, livro de Emanuel Leite, ensina: “Na busca por novas oportunidades, toda empresa deve estar aberta para o futuro. Sabem-se de duas coisas sobre o futuro: que não pode ser conhecido e que será diferente de hoje”. A partir disso, devemos procurar por indícios no presente, com potencial impactante para promover mudanças. Isso é possível, porque o futuro não será feito amanhã; ele está sendo construído hoje – em grande parte pelas manifestações culturais, pelos comportamentos e valores consolidados em nossas crianças, por grandes eventos que acontecerão e serão capazes de alterar tendências, além dos produtos de larga adesão, como telefones celulares, capazes de criar profundas alterações sobre as demais rotinas humanas.

     Para fortalecer o ânimo dos nossos empreendedores, brindemos com Fernando Pessoa a destruição criativa, tão necessária aos negócios: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmo”.



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            Publicado no Jornal Cinform em 20/01/2014 - Caderno Emprego
             http://palavraderh.com.br/o-futuro-e-o-seu-maior-concorrente/
            Publicado no jornal Coerente de 01/05/14 p.05