A sabedoria popular ensina que “a vida é feita de escolhas”. Tal
afirmativa encontra no berço da Economia um dos fundamentos dessa ciência: o
custo de oportunidade. Ou seja, o custo implícito pela renúncia a todas as demais
possibilidades, após termos feito uma determinada escolha. Assim, ao optarmos
por fazer uma mesa de madeira, renunciamos, automaticamente, a todas as
cadeiras, skates e janelas, por exemplo, que essa mesma madeira poderia prover.
Esse mesmo princípio rege o dinheiro dos nossos clientes. Ao escolher
um destino, ele renuncia a qualquer outro fim para esse capital. Dessa forma, a concorrência entre empresas tem
crescido demais. Aliás, na mesma proporção que a oferta de produtos e serviços,
alavancados pelo agigantado hábito (ou vício) de consumo.
Conceitualmente, classificamos
os concorrentes como diretos ou indiretos: os diretos, mais óbvios, são formados
por estabelecimentos muito parecidos entre si, que ofertam artigos semelhantes,
com preços similares e pontos de vendas do mesmo tipo. Porém, podem ser também,
estabelecimentos maiores, que miram o mesmo público-alvo, ofertam produtos
iguais, contudo, com um mix maior, a exemplo das lojas de departamentos, locais
ou via comércio eletrônico.
Já os concorrentes indiretos são mais difusos e difíceis de
localizarmos. São caracterizados por disputar os mesmos recursos e clientes,
para fins bem diversos. Nessa categoria, encontramos uma imobiliária
concorrendo com uma concessionária de automóveis, ou uma agência de viagens, ou
ainda, qualquer outro ramo que dependa de disponibilidade de crédito. Assim, ao
assumir dívidas relativas ao financiamento de um carro, o comprador compromete
sua renda, inviabilizando-o, em geral, de realizar viagens turísticas ou de
comprar um imóvel.
Surpreendentemente, a realidade da concorrência de mercado não
para por ai, já que o consagrado economista Schumpeter (1883-1950) desenvolveu
a teoria da “destruição criativa”, afirmando que a concorrência efetiva é dada
pelos efeitos das inovações sobre as empresas existentes. Portanto, reforça que
a verdadeira concorrência na economia capitalista não se dá entre pequenas
empresas que produzem a mesma mercadoria ou serviço, mas aquela que as empresas
inovadoras, nas quais se desenvolve a atividade empreendedora, exercem em
confronto com as outras. Não é a concorrência que existe entre bens idênticos
produzidos todos do mesmo modo, mas sim a que os produtos novos impõem aos
antigos.
Como se sabe, os ciclos de vida dos produtos estão cada vez mais
curtos. Alguns deles são prometidos para apenas uma estação, como o “celular do
verão” – vejam no Google -, quando este, deveria ser um bem durável. Assim, nada
tende ao surgimento de uma nova, sexagenária Kombi. Qual seria o carro, lançado
hoje, que sobreviveria em produção até 2070?
O Fenômeno do Empreendedorismo, livro de Emanuel Leite, ensina:
“Na busca por novas oportunidades, toda empresa deve estar aberta para o
futuro. Sabem-se de duas coisas sobre o futuro: que não pode ser conhecido e
que será diferente de hoje”. A partir disso, devemos procurar por indícios no
presente, com potencial impactante para promover mudanças. Isso é possível,
porque o futuro não será feito amanhã; ele está sendo construído hoje – em
grande parte pelas manifestações culturais, pelos comportamentos e valores consolidados
em nossas crianças, por grandes eventos que acontecerão e serão capazes de
alterar tendências, além dos produtos de larga adesão, como telefones
celulares, capazes de criar profundas alterações sobre as demais rotinas
humanas.
Para fortalecer o ânimo dos nossos empreendedores, brindemos com
Fernando Pessoa a destruição criativa, tão necessária aos negócios: “Há um
tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso
corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É
o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre,
à margem de nós mesmo”.
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Publicado no Jornal Cinform em 20/01/2014 - Caderno Emprego
http://palavraderh.com.br/o-futuro-e-o-seu-maior-concorrente/