As grandes empresas tem produzido um fenômeno de concentração de produtos de ordem mundial que limita a possibilidade de escolha do consumidor. É a conhecida comoditização ou padronização de produtos, insumos e serviços que, hoje, dita as regras do jogo econômico e aprisiona a indústria a modelos rígidos e repetitivos. Difícil encontrar um carro realmente diferente, pois notamos claramente a repetição de um design mestre, copiado pelas demais montadoras.
Há uma forte tendência a igualar os
produtos para consumo, restringindo a liberdade de escolha do cliente, bem como
as margens de lucro das empresas. Ou seja, se não há diferença entre o café
brasileiro ou colombiano, escolhemos aquele de menor preço. Da mesma forma, ao comprarmos
o pneu do carro, a calça jeans do dia a dia, a
geladeira doméstica ou o aparelho de TV, caímos na mesma situação: tudo muito
semelhante e ofertado, mundo afora, por um número “oligopólico” de
fornecedores.
De imediato, percebemos que não é nada
fácil entrar em uma competição dessas. Inimaginável para nós, simples mortais,
concorrer com marcas mundiais como a Samsung, Sony, LG e outra gigante
qualquer. Podemos exemplificar, a Coca-Cola está presente em 200 países, a Danone em 120 e
a P&G em 180.
Então, se nesse palco de grandes
disputas globais o vencedor é aquele que consegue menor custo, logo, menor
preço, então, estamos diante de uma corrida suicida. Tal movimento levará ao
menor custo a “qualquer preço”. Isto é, será mais bem sucedido quem desrespeitar
o meio ambiente, os trabalhadores e a sociedade em geral, na medida em que possa
externalizar ao máximo os custos da produção, socializando o prejuízo e
concentrando o lucro. Como, parece acontecer com o poluído PIB chinês.
É possível fugir dessa disputa
asfixiante? Sim, a fórmula mais recomendada e perseguida é a inovação, uma vez que
diferenciamos nosso produto visando a respirar em exclusiva atmosfera, pelo
menos por um tempo. A história demonstra que os inovadores são mais lucrativos.
Com efeito, vemos que coexistem duas
correntes antagônicas. Uma no sentido de coletivizar, ou seja, igualar ao
máximo, produtos, serviços e, até, pessoas, a partir de ícones bem-sucedidos. A
outra, na contramão, segue no sentido de diversificar ou individualizá-los. A
moda dita a forma como nos vestimos e a cor predominante dos carros. O design
impõe a todos os prédios ângulos retos, exclusivamente. De maneira contrária, a
criatividade rompe com esse impulso massificador e diversifica os frutos da temporada.
Assim, a diversidade aponta para o
livre-arbítrio. É o passo dado na direção da liberdade e da unicidade. Somente
evoluímos quando nos diferenciamos do comum. Uma característica que nos separa
do animal é a emancipação em relação às forças determinantes da própria
espécie. Explicando melhor, é impossível uma coruja “optar” por uma dieta
vegetariana ou por ter filhotes em diferente época do ano. Já, para os humanos,
essas regras deixaram de ser obrigatórias para se tornar optativas ou eletivas.
A natureza humana é outra – somos movidos para a diversidade ou individuação.
O famoso economista J. M. Keynes
afirmou que “a dificuldade não reside em novas ideias, mas em escapar das
ideias antigas, pois para aqueles que foram criados como a maioria de nós,
estas ideias se ramificam em todos os cantos da mente”. Bela descrição para o
apego que comumente encontramos nos ambientes empresariais em pessoas agarradas
a cargos menores que o potencial delas mesmas.
Por medo do desconhecido, visão de
mundo distorcida ou nefasta comodidade, estes trabalhadores não formam
sucessores para poder evoluir para postos superiores ou maiores oportunidades
profissionais que surgem com frequência nos bons momentos de economia
crescente.
E como educar para desenvolver a
criatividade? A resposta virá em outro artigo. Contudo, fica uma imagem poética
da imortal Clarice Lispector: “Um pouco de aventura liberta a alma cativa do
algoz cotidiano”.
Publicado no jornal Cinform em 04/03/2013 – Caderno Emprego