A pluralidade é uma marca inexorável
dos dias atuais. Percebe-se, enfaticamente, essa característica de forma muito própria
no Brasil. O País do astronauta Marcos Pontes, da pujante indústria
aeroespacial, dos procedimentos médicos com tecnologias de ponta e das ilhas de
excelência também é o mesmo dos bolsões de miséria e – pasme - a Pindorama de
sempre, para dezenas de grupos indígenas amazônicos sem contato conosco ainda.
São nossos contemporâneos casuais.
Isso porque, sob a ótica da linha do tempo tecnológico, ainda vivem como se
fosse há dez mil anos, ou seja, sem domínio da linguagem escrita, da tecnologia
do ferro, da agricultura (?), da roda e outras obviedades nossas. Qual será a
expectativa de vida desse conterrâneo? Não sei.
Sinceramente, não sei como lidar com
essa situação: mantê-los isolados sem lhes dar a oportunidade de uma vida de
mais conforto e longevidade, apesar do choque cultural, ou preservá-los assim,
como bons selvagens (sic), de teóricos como Rousseau? Tenho minhas duvidas. E
desconfio de quem sabe, especialmente daqueles que romantizam a questão, mas
não renunciam à vida que levam a experimentar a hostilidade da natureza bruta
para com a nossa não especializada espécie humana.
Deixemos de exageros para falar em
pluralidade, pois situações bem mais corriqueiras podem conter diversidades
inimagináveis. Apresentamos a seguir uma lista de coisas estranhas que até parecem
ser de outro mundo. É possível existir um lugar no Brasil que, nos dias de
hoje, funcione assim?
1- Todas as ideias possam competir em
condições de igualdade.
2- As contribuições sejam mais
importantes que as credenciais.
3- As hierarquias sejam construídas de
baixo para cima.
4- Os líderes sirvam, em vez de comandar.
5- As tarefas sejam escolhidas, não atribuídas.
6- Os grupos se autodefinem e se
auto-organizam.
7- Os recursos sejam atraídos, não
alocados.
8- O poder decorra do compartilhamento,
não do entesouramento.
9- A mediocridade seja exposta.
10- Os dissidentes possam juntar forças.
11- Os “comuns” possam vetar a maioria das
decisões políticas.
12- As recompensas intrínsecas sejam as mais
importantes.
13- A geografia seja uma ciência morta.
14- Ninguém seja excluído - ou prejudicado - por
só usar a visão e a audição e mais nenhum outro sentido.
15- Tamanho não seja “documento”.
Como uma realidade paralela, esse
lugar existe em nossa variada cultura tupiniquim em estado latente. Por
enquanto, já que promete acordar e dominar a tudo e a todos em breve tempo.
Esse lugar é o ambiente colaborativo das redes sociais da internet. O ambiente
da Wikipedia, do Facebook, do Youtube, do Linux, ferramentas compartilhadas por
autores e consumidores.
Engraçado que, entre nossos vizinhos
de condomínio, há os que ignoram completamente essa tal de internet; há os que
a utilizam como um plano B – só em ultimo caso, porque precisam de assistência;
há os que a tratam como um “caixa 2” – obscuramente; há os que a utilizam
paralelamente à rotina – como algo complementar; e, por fim, os que só vivem
nela – desvitalizados e empobrecidos da realidade, porém, reconhecidamente
verdadeiros nativos digitais.
Esses últimos formam a Geração F (de
Facebook), fatia crescente do estrato social e que logo estarão ocupando
postos-chave nas empresas. Serão eles que definirão os novos padrões culturais,
comerciais e administrativos. Assim, será que nossas empresas sobreviverão a
essa revolução anunciada? A sobrevivência depende de ir além da satisfação do
seu consumidor local, em um mercado menos complacente que o atual, uma vez que
será global e no qual o cliente colabora com a empresa, com poderes para
fazê-la crescer ou minguar.
Compare os 15 itens apresentados anteriormente
com o modelo de negócio praticado por sua empresa e veja a que distância ela
está dessa tendência. Esse check-list pode espelhar, em uma sociedade plural
como a nossa, a sua posição. Em qual mundo você está?
Publicado no jornal Cinform em 11/02/2013 – Caderno Emprego