Selecionar candidatos a uma vaga de
emprego é tarefa árdua. Sempre há um grande risco na escolha e de
consequências, geralmente caras e desastrosas para todos, se malsucedida.
Por certo, uma das áreas em que há
grande dificuldade para se encontrar o profissional pleno é a de tributos. O
Brasil produz 6 normas de código tributário diariamente nas esferas municipais,
estaduais e federal. São tantos produtos reguladores, que desafiam a capacidade
humana de compreensão e, pior ainda, a capacidade de explicar esse assunto a
alguém. Esse “Samba do Crioulo Doido” composto na “Torre de Babel” tem que ser
dominado por todos os brasileiros, já que a esses, não é dado o direito de
desconhecer qualquer Lei.
Com efeito, uma empresa que não faz
negócios com os demais Estados do País deve cumprir, à risca, pelo menos 3,4
mil normas tributárias. Isso equivale, aproximadamente, a acompanhar 38,4 mil
artigos ou 89,5 mil parágrafos. Ou ainda: 286,2 mil incisos. Afinal, são 250
mil normas tributárias criadas desde a Constituição Federal de 1988, que
regulamentam os 62 tributos vigentes. Porém, a todos, tranquiliza saber que "ninguém
será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".
É nesse cenário tenebroso que descobrir o professor perfeito para a matéria tem
deixado muito recrutador experiente cronicamente insone.
Com Aderbal não era diferente.
Experiente recrutador de uma faculdade de Administração e Direito, ele suava
frio quando imaginava ter que encontrar e selecionar professor da matéria em
comento. Pois, além de escassos numericamente, os candidatos dificilmente
atendiam os pré-requisitos supraplanetários exigidos. Mesmo candidatos capazes
de explicar para que servem bolsos de pijamas ou de colocar aliança em dedo de
pato, não conseguiam convencer o selecionador de serem capazes de ensinar sobre
nossos tributos. Até que, por uma dessas coisas que a lógica cartesiana não
explica e que a visão imagética não convence, Aderbal, nosso dramático
protagonista, percebeu - com seu calejado feeling - estar diante do candidato
ideal por conta dessa pequena história contada por ele (o candidato, é claro):
“A alguns anos atrás eu conheci e
acabei me casando com uma viúva, bem conservada, mas que já tinha inclusive uma
filha crescida. Mais tarde, o meu pai se casou com a filha da viúva.
Então a minha enteada tornou-se minha
madastra e eu virei padrastro do meu pai. Ao mesmo tempo, eu virei sogro do meu
pai e minha esposa virou sogra do próprio sogro.
Depois a filha da minha esposa, minha
madrasta, teve um filho. Este menino é meu irmão uma vez que ele é filho do meu
pai, mas ele é também filho da filha da minha esposa, que o torna meu neto. Eu
virei então avô do meu irmão.
Mas isso não era nada até a hora em
que eu e a minha esposa tivemos um filho. Agora a filha da minha esposa, que é
irmã do meu filho e também minha madrasta, tornou-se avó do próprio irmão. O
meu pai, casado com a irmã do meu filho, acabou virando cunhado do próprio neto.
Eu sou cunhado da minha madrasta,
minha esposa é tia da própria filha, meu filho é sobrinho do meu pai e eu sou
avô de mim mesmo!”
E, para finalizar a esclarecedora
narrativa com chave de ouro, o candidato ainda explicou tim-tim por tim-tim, os
critérios que fundamentaram a pensão alimentícia que passou a receber, quando
da separação litigiosa do seu pai, o cunhado do próprio neto. Além, da justa e lúcida
partilha de bens resultante da morte da viúva, obviamente, como vimos, a tia da
própria filha. E, carismático que é, o professor terminou demonstrando
cabalmente que o viúvo é o marido da viúva.
Nem é preciso dizer que esse candidato
tornou-se o professor que mais dominava a matéria sobre tributos brasileiros,
posto que “não se ensina aquilo que se
quer, ensina-se e só se pode ensinar aquilo que se é”, assim assegurou o
pacifista francês Jean Jaurés, cem anos atrás, sem nem conhecer o Brasil.
Publicado no jornal Cinform em 14/01/2013 – Caderno Emprego
Publicado na Revista Tecnologia da Informação &Negócios nº 12/2013
Publicado em http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/o-viuvo-e-o-marido-da-viuva-ou-o-professor-ideal-de-tributos-brasileiros/84236/
Publicado na Revista Fecomércio Sergipe Nº 23 Fev/Mar 2017