segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Boa pergunta não fica sem resposta



     Intuitivamente, avaliamos a inteligência e o conhecimento de alguém com quem conversamos, mais pelas perguntas que faz do que pelas respostas que dá. Embora, curiosamente, as avaliações de conhecimento mais formais se façam através das respostas nas provas da escola ou dos concursos públicos.


     É sabido que tudo no universo está relacionado entre si formando uma rede infinita. Ainda que não seja de fácil compreensão, estudiosos dos fenômenos naturais, como Goethe e atuais pesquisadores da física subatômica, por meio de seus estudos comprovam essa realidade. Valendo-se do princípio de que tudo espelha o todo, a prática terapêutica de diagnosticar pela íris, da acupuntura, ou do Do-in, com seus mapas do corpo inteiro e sabedoria milenar, comprova essa verdade.


     Conhecer as inúmeras relações e as leis gerais do universo é o grande desafio da nova ciência, holística e integradora, ao invés de reducionista e fragmentadora, ainda vigente. Nesse contexto, pessoas já se movimentam atentas a esse novo paradigma e começam a desenvolver um modo de vida mais conveniente para o planeta sob a ótica socioambiental, além de desenvolverem produtos, serviços e valores a serem adotados por todos num futuro próximo.


     Seguramente, a resposta para nossa dúvida pode estar presente em tudo, desde que façamos a pergunta certa. Por isso, podemos estar no cinema assistindo a um filme qualquer e em uma cena recebemos um insight que nos mostra a solução para uma angústia que nos atormentava há dias. Isso pode acontecer no aniversário de uma criança, em um sonho, ou outra situação cotidiana, aparentemente desvinculada do problema. O que prova, a meu ver, que não foi uma resposta que chegou do nada, mas sim, a pergunta que finalmente formulamos corretamente, mesmo que de forma inconsciente.


     Robert H. Frank, professor de economia, autor do livro “O naturalista da economia”, é um dos que acreditam que a melhor forma de ensinar conceitos complicados da economia é através das perguntas mais curiosas dos seus alunos, estimulados por ele. No livro estão algumas: Por que os teclados dos caixas eletrônicos de drive-in possuem código em braile, se cegos não podem dirigir? Por que a geladeira possui lâmpada interna que se acende automaticamente ao abrirmos a porta e o freezer não? Por que o leite é vendido em recipientes retangulares, enquanto os refrigerantes vêm em embalagens cilíndricas? Por que, em alguns automóveis, a porta do tanque de gasolina fica do lado do motorista enquanto em outros fica do lado do passageiro? Por que os DVDs são vendidos em embalagens muito maiores que as dos CDs, embora ambos os discos tenham exatamente o mesmo tamanho? Por que as roupas femininas são abotoadas a partir da esquerda, enquanto as roupas masculinas o são pelo lado direito? Essas e outras perguntas são respondidas categoricamente a partir de fundamentos econômicos.

O bom professor estimula seus alunos a fazerem perguntas. Por certo, a interdisciplinaridade fará conexões - com nexo - entre a pergunta aparentemente mais descabida com o assunto em pauta, gerando uma oportunidade desafiadora e envolvente de aprendizagem.


     Um caminho para estimular esse hábito consiste em se fazer as perguntas mais abertas possíveis, de forma a permitir várias respostas corretas. Ilustrando: se a pergunta oral for “quanto é 2+2?” automaticamente apenas um aluno acertará ao responder “4!” Excluindo todos os demais. Melhor seria perguntar à classe “4 é igual a?”, o que permite tantas respostas corretas quantos sejam os alunos, estimulando o raciocínio, a criatividade e respeitando a habilidade mental de cada um.


     E, para provar que fazer boas perguntas é uma arte, apresentamos essa pequena estória:  “Um padre escreveu ao Papa perguntando se era permitido fumar enquanto rezava. O Papa, à luz de seus princípios, respondeu que não, pois rezar é um ato que exige dedicação absoluta. Outro padre, também fumante inveterado, resolveu fazer a mesma consulta, mas invertendo um pouco a formulação. Perguntou se era permitido rezar enquanto se fuma. A resposta veio positiva: é claro que sim, pois é bom rezar em qualquer situação.”





Publicado no jornal Cinform em 20/02/2012 – Caderno Emprego
Publicado na Revista Fecomércio em 04/2013



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A criatividade de um bom aluno


     Encontrei esse texto na internet, de autoria incerta, mais bastante interessante, o qual compartilho com outros educadores:


     “Há algum tempo recebi um convite de um colega para servir de árbitro na revisão de uma prova de Meteorologia Física. Tratava-se de avaliar uma questão de física, que recebera nota ‘zero’.


     O aluno contestava tal conceito, alegando que merecia nota máxima pela resposta, a não ser que houvesse uma ‘conspiração do sistema’ contra ele.


     Professor e aluno concordaram em submeter o problema a um juiz imparcial, e eu fui o escolhido. Chegando à sala de meu colega, li a questão da prova, que dizia: ‘Mostrar como se pode determinar a altura de um edifício alto com o auxilio de um barômetro’.


     A resposta do estudante foi a seguinte: ‘Leve o barômetro ao alto do edifício e amarre uma corda nele; baixe o barômetro até a calçada; em seguida ice a corda e meça seu comprimento; este comprimento será igual à altura do edifício’. Sem dúvida era uma resposta interessante, e de alguma forma correta, pois satisfazia o enunciado.


     Por instantes vacilei quanto ao veredicto. Recompondo-me rapidamente, disse ao estudante que ele tinha forte razão para ter nota máxima, já que havia respondido a questão completa e corretamente. Entretanto, se ele tirasse nota máxima, estaria caracterizada uma classificação para um curso de Física, mas a resposta não confirmava isso.


     Sugeri então que fizesse uma outra tentativa para responder à questão. Não me surpreendi quando meu colega concordou, mas sim quando o estudante resolveu encarar o que eu imaginei seria um bom desafio.


     Segundo o acordo, ele teria seis minutos para responder à questão; isto após ter sido prevenido de que sua resposta deveria demonstrar, necessariamente, algum conhecimento de física.


     Passados cinco minutos ele não havia escrito nada; apenas olhava pensativamente para o teto da sala.


     Perguntei-lhe então se desejava desistir, pois eu tinha um compromisso logo em seguida, e não tinha tempo a perder. Mais surpreso ainda fiquei quando o estudante anunciou que não havia desistido. Na realidade tinha muitas respostas, e estava justamente escolhendo a melhor. Desculpei-me pela interrupção e solicitei que continuasse.

No momento seguinte ele escreveu esta resposta: ‘Vá ao alto do edifício, incline-se numa ponta do telhado e solte o barômetro, medindo o tempo de queda desde a largada até o toque com o solo. Depois, empregando a Fórmula h = ½ gt2 calcule a altura do edifício’.


     Perguntei então ao meu colega se ele estava satisfeito com a nova resposta, e se concordava com a minha disposição em conferir praticamente nota máxima à prova.

Meu colega concordou, embora sentisse nele uma expressão de descontentamento, talvez inconformismo…


     Ao sair da sala lembrei-me que o estudante havia dito ter outras respostas para o problema. Embora já sem tempo, não resisti à curiosidade e perguntei-lhe quais eram estas respostas.


     Ah!, sim,’ – disse ele – ‘há muitas maneiras de se achar a altura de um edifício com a ajuda de um barômetro’.


     Perante a minha curiosidade e a já perplexidade de meu colega, o estudante desfilou as seguintes explicações.


     ‘Por exemplo, num belo dia de sol pode-se medir a altura do barômetro e o comprimento de sua sombra projetada no solo, bem como a do edifício. Depois, usando uma simples regra de três, determina-se a altura do edifício’.


     ‘Um outro método básico de medida, aliás bastante simples e direto, é subir as escadas do edifício fazendo marcas na parede, espaçadas da altura do barômetro. Contando o número de marcas, ter-se-á a altura do edifício em unidades barométricas’.


     ‘Um método mais sofisticado seria amarrar o barômetro na ponta de uma corda e balançá-lo como um pêndulo, o que permite a determinação da aceleração da gravidade (g). Repetindo a operação ao nível da rua e no topo do edifício, tem-se 2 gs, e a altura do edifício pode, a princípio, ser calculada com base nessa diferença’.


     ‘Finalmente’, concluiu, ‘se não for cobrada uma solução física para o problema, existem outras respostas. Por exemplo, pode-se ir até o edifício e bater à porta do síndico. Quando ele aparecer, diz-se: Caro Sr. síndico, trago aqui um ótimo barômetro; se o Sr. me disser a altura deste edifício, eu lhe darei o barômetro de presente’.


     A esta altura, perguntei ao estudante se ele não sabia qual era a resposta esperada para o Problema. Ele admitiu que sabia, mas estava tão farto com as tentativas dos professores de controlar o seu raciocínio e a cobrar respostas prontas com base em informações mecanicamente arroladas, que ele resolveu contestar aquilo que considerava, principalmente, uma farsa.”


     Todos concordam que esse é um bom aluno?





Publicado no jornal Cinform em 06/02/2012 – Caderno Emprego